Viver
Festival de Setembro. Ourém abraça e celebra a imigração
Concertos, gastronomia, artes performativas, cinema, exposições. E aprender kizomba ou, por exemplo, conhecer os segredos da doçaria da Suécia

De quantas culturas se faz um lugar? A pergunta está em todos os cantos e recantos do Festival de Setembro, que acontece no fim-de-semana, em Ourém.
Bons Vizinhos, exposição e documentário, que escuta 40 migrantes que vivem no concelho, resume o espírito que vai animar a vila medieval nos dias 5, 6 e 7 de Setembro: imigração, encontro e criação, este ano sob o tema Co(m)fluências.
Noutra exposição, Ruas Que Contam!, também se descobrem testemunhos de imigrantes que habitam a região. A iniciativa do município de Ourém conta com a participação de alguns deles e o público pode, por exemplo, aprender a dançar kizomba ou participar em momentos sobre doçaria da Suécia, bordados do Paraguai e culinária de Cabo Verde.
“Estamos aqui a dar um sinal”, diz João Aidos. “A cultura pode ser uma belíssima forma de integração” e “diálogo”. O director artístico do Festival de Setembro salienta: “Há um trabalho a fazer, que é irmos ao encontro destas pessoas, que fazem parte da comunidade”.
“Quem é que é a outra pessoa que vive ali ao meu lado, o que é que sei dessa pessosa, o que é que ela carrega”, reforça.
Na programação, não faltam actividades para crianças e famílias: a oficina Falar Pró Boneco convida a dobrar a curta-metragem de animação Autocarro e dar voz a histórias de migrantes que são contadas no filme.
Ao todo, meia centena de propostas para todas as idades ao longo de três dias, com exposições, cinema, teatro, dança, circo contemporâneo, literatura, performance, instalação e, claro, concertos: Fogo Fogo, Scúru Fitchádu, Rossana, Sónia Trópicos, Crash Recycled, Bandustika, Conrado Bruno, Celino, Moura, O Mau Olhado, Silk Nobre e Criatura com dois coros de Ourém. Mas, igualmente, oficinas, visitas guiadas, workshops, gastronomia local e internacional, artesanato de Ourém e de outros países, jogos e brincadeiras, a conferência “Migrações e cultura: conversas em volta” por José Mapril, Inês Lourenço e Filipa Baptista e a tertúlia “Corações sem mapa: como é que os nossos amigos se tornam nossos amigos”, com Nuno Artur Silva e Paulo Feytor Pinto.
No Festival de Setembro, “Ourém é chão comum de nativos e (i)migrantes”, lê-se no site do evento. Em nome da “tolerância”, o projecto pretende “celebrar o legado de um território historicamente enriquecido por fluxos migratórios”, que “moldam a identidade colectiva”. A nota de divugação lembra que “no século XV, D. Afonso, 4.º Conde de Ourém, convidou outros povos a habitarem a vila medieval”. E hoje, no concelho “acostumado a um longo trajecto de emigração”, as cidades e aldeias acolhem “pessoas e culturas de diferentes continentes”.