Viver
Exposições: Silva Porto: A Paisagem no Desenho e na Pintura
Galeria Nova Ogiva, Óbidos

Até 7 de Setembro de 2025
Artista: Silva Porto
Desenho e pintura do século XIX
Curadoria: João Paulo Queiroz
Galeria Nova Ogiva, Óbidos
De quarta a segunda: 10 às 13 horas e 14 às 16 horas
António Carvalho da Silva Porto nasce a 11 de Novembro de 1850, na cidade do Porto. Depois de frequentar a Escola Industrial do Porto, onde aprende o desenho de ornato e o desenho técnico, frequenta a Academia Portuense de Belas Artes, aprendendo Arquitectura, e também a modelação e a Pintura Histórica, concluindo a Academia, como pintor, em 1873, com 22 anos. Ganha o concurso para pensionista do Estado (Paisagem) de 5 anos em Paris, a partir de 1873, com 23 anos, acompanhado pelo seu colega Marques de Oliveira.
Em Paris, na Escola de Belas Artes, frequenta as aulas de Alexandre Cabanel, de modelo vivo, e de Adolphe Yvon, de modelos em gesso. Cabanel recomenda a Silva Porto aulas de paisagem com o paisagista Marcelin Groiseilliez. Conhece e acompanha Daubigny, que toma como mestre. Com efeito, o paisagismo impõe-se cada vez mais ao gosto parisiense, sendo descrito como la peinture portraitiste de la nature. Permanece em estâncias na floresta de Barbizon, a 50km de Paris. Era o “vale dos pintores” preservado por influência de Théodore Rousseau. Mas demora-se sobretudo no vale do rio Oise, a noroeste de Paris, para onde se mudara Daubigny, com a sua casa e o seu conhecido barco-atelier. Ali cruza-se com Pissarro e Cézanne.
Em 1876 Silva Porto é admitido no Salon, com o quadro “Margens do Oise, em Auvers (Seineet- Oise)”. O Salon era muito disputado: nesse ano concorreram 10.000 artistas, para serem admitidos um pouco mais de 4.000. Nesse ano, oriundos de Portugal, serão admitidos somente Silva Porto e Marques de Oliveira.
O regresso a Portugal será para leccionar na Academia de Lisboa, na cadeira de Pintura de Paisagem e de Costumes. Silva Porto, como professor, cedo marca a revolução: na sua primeira sessão da Academia, em 19 de Maio de 1879, anota-se na acta a justificação que “o sr. prof. Porto não podia comparecer, por se achar com os alunos no campo, estudando o natural”. Silva Porto introduz na Academia, sempre ciosa das maneiras do “grande gosto” histórico, uma prática oposta, rápida, directa, muito próxima do quotidiano, itinerante e naturalista. A didáctica pelo exemplo é a imagem de Silva Porto: é um trabalhador no campo.
Efectivamente, na XII Exposição da Sociedade Promotora, em 1880, Silva Porto vai expor 29 óleos, uma presença nunca vista pelo seu número e qualidade. São trechos soalheiros de vários pontos de Portugal, de Setúbal ao Minho, quase todos com a luz intensa ou com a frescura de uma Primavera.
Em 1881 constitui-se informalmente “O Grupo do Leão”, a partir do nome do café-restaurante junto ao Rossio. A 15 de Dezembro de 1881 abre a primeira exposição deste grupo, na Sociedade de Geografia. Silva Porto expõe 20 quadros, acompanhado pelos seus amigos e discípulos: António Ramalho, João Vaz, José Malhoa, Henrique Pinto, entre outros.
Em Abril de 1885, na reabertura do café Leão, agora “Leão d’Ouro,” encomendando-se para as paredes grandes telas aos pintores do grupo. A tela de Columbano será o retrato colectivo dos artistas à mesa, e dos criados. Ao centro encontra-se Silva Porto, a quem são mostrados desenhos, rodeado por 11 artistas, e pelo entusiasta do grupo, o jornalista Alberto Oliveira, e ainda os dois criados da casa. “As Macieiras em flor da Ameixoeira” será a última obra de Silva Porto, antes da sua morte precoce, aos 42 anos, a 1 de Junho de 1893.
No primeiro andar desta exposição apresenta-se ainda um conjunto de desenhos da sua aprendizagem na Escola Técnica, e logo depois na Academia de Belas Artes do Porto. Os desenhos da bolsa na Escola de Belas Artes de Paris mostram-se a par com alguns desenhos que testemunham também o seu activo arlivrismo na floresta de Barbizon e no Vale do Oise. A encerrar o percurso, já no último piso, um apontamento do vulcão Stromboli, perto de Nápoles, na viagem final da sua bolsa por Itália.
Após a morte de Silva Porto, no leilão do seu espólio artístico, o Grémio Artístico adquire um conjunto de 400 desenhos. Da fusão entre o Grémio e a Sociedade Promotora resultou a actual Sociedade Nacional de Belas Artes, que conserva estes trabalhos na sua colecção. São testemunhos imprescindíveis para conhecer o seu percurso e pensamento que coincide com a introdução da arte moderna em Portugal.
Ao JORNAL DE LEIRIA, João Paulo Queiroz, presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes e curador desta mostra, afirma que esta exposição, que já esteve em vários pontos do País, serve “para recordar a importância deste artista – que foi um dos impulsionadores do paisagismo ao ar livre em Portugal, ao público moderno”.
A exposição encontra-se integrada na Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, uma iniciativa do Ministério da Cultura, que prevê a itinerância das mostras em estabelecimentos aderentes por todo o País.