Sociedade

Ex-padre de 82 anos em prisão preventiva por suspeitas de violar mulher de 47 em Murça

26 dez 2021 17:13

Homem já tinha sido detido em Fátima pelo mesmo tipo de crime

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Redacção/Agência Lusa

Um antigo padre de 82 anos foi detido em Murça, distrito de Vila Real, por suspeitas de violar uma mulher de 47, tendo sido presente a tribunal e ficado em prisão preventiva, adiantou à Lusa fonte da Polícia Judiciária.

Segundo a fonte, a violação terá acontecido a 21 de Dezembro em Murça durante a realização de uma sessão de exorcismo.

“Aproveitou-se da fragilidade e vulnerabilidade da vítima de 47 anos”, considerou a PJ de Vila Real.

Depois de ter sido detido esta manhã, o antigo padre foi presente ao Tribunal de Instrução Criminal, ficando a aguardar julgamento em prisão preventiva, medida de coacção mais gravosa.

Este homem já havia sido detido, noutras ocasiões, nomeadamente em Fátima, por factos semelhantes, avançou a PJ.

Em 2018, o ‘padre’ Humberto Gama, conhecido em Fátima pelos seus dotes de exorcista, foi indiciado da prática de um crime de violação, depois da denúncia de uma mulher, no dia 1 de Agosto.

Humberto Gama negou as acusações e acusa a Igreja de estar por detrás desta situação. “Isto foi tudo programado”, disse ao JORNAL DE LEIRIA.

“Tenho mais gente na minha casa do que na paróquia a 500 metros de casa. Foi uma teia que montaram, mas correu-lhes mal. Os sacerdotes não fazem nem querem deixar fazer.”

O exorcista contou que a queixosa esteve três vezes em sua casa. “Em Junho apareceu de muletas, mal amparada e a falar que o marido não queria dormir com ela. Dizia que andava um espírito em casa e que a perturbava muito. Ajudei-a e pedi-lhe que voltasse, agora acompanhada do marido.” Assim diz que o fez.

Humberto Gama garantiu que a mulher estava “tratada”, mas tentou marcar nova consulta, que lhe foi recusada. Mesmo assim, a vítima terá aparecido na casa de Humberto Gama exigindo ser atendida. “Tinha a sala cheia, mas acabei por a deixar entrar. Esteve apenas dez minutos. Fiz-lhe a oração do costume, coloquei-lhe a estola em cima das costas e carreguei sobre os seus ombros”, explicou ao referir que a porta esteve “sempre aberta”.

“Quando veio com esta história faz-me crer que já estava tudo orientado. Ando nisto há 50 anos e nunca conseguiram demover-me. Não quero estar a dizer que foi a Igreja de Leiria, mas os timings em que tudo aconteceu… O juiz soube distinguir o que é verdade e por isso libertou-me. O meu único castigo é não me aproximar dela nem ela de mim”, frisou.

Afirmando que a sua missão é “ajudar as pessoas”, Humberto Gama sublinhou que não cobra pelo serviço. “Digo sempre que se virem que mereço, deixem o dinheiro que quiserem. Não preciso disto para viver, ao contrário de quem está na Igreja. Isto é tudo uma masturbação religiosa”, remata.

Mulher foi conduzida ao hospital
O homem, que foi expulso da Igreja, foi detido em Agosto de 2018 pelo Departamento de Investigação Criminal de Leiria da Polícia Judiciária, alegadamente por ter usado a sua actividade de exorcista para agredir sexualmente uma mulher.

Segundo a PJ, já em Agosto o homem "explorou a fragilidade da vítima, especialmente vulnerável, constrangeu-a à prática de actos sexuais de relevo, após a ter colocado na impossibilidade de resistir”.

“A vítima foi conduzida a estabelecimento hospitalar, onde lhe foram prestados cuidados de saúde. O arguido, fazendo-se ainda passar por padre, desenvolvia a actividade de exorcista, amplamente divulgada, levando inúmeras pessoas em dificuldades várias a consultá-lo e auspiciando uma eventual ajuda da sua parte, cobrando honorários. Por tais factos, também se investiga a eventual prática do crime de burla qualificada”, acrescentou a PJ.

Após ter sido presente a primeiro interrogatório judicial, o Tribunal de Santarém decretou a medida de coacção de apresentações bi-semanais à autoridade policial na área da sua residência.

Num comunicado, a diocese de Leiria-Fátima referiu que Humberto Gama foi membro da Congregação religiosa dos Marianos da Imaculada Conceição, tendo sido ordenado sacerdote no Convento de Balsamão, no concelho de Macedo de Cavaleiros, em 1965. Mas, em 1972, “por motivos graves, o governo geral da mesma Congregação demitiu-o”.