Economia

“Digitalização não é um palavrão, tem a ver com as pessoas”

7 jun 2019 00:00

Conferência debateu impactos da digitalização e da indústria 4.0 na competitividade das empresas, depois de homenagem a João Vasconcelos, ex-secretário de Estado da Indústria

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Raquel de Sousa Silva

A digitalização da economia “não é só um palavrão, tem a ver com as pessoas”. Pedro Pires de Miranda, presidente executivo da Siemens Portugal, frisou na conferência promovida pelo JORNAL DE LEIRIA para assinalar a publicação da revista PME Excelência que esta é uma “mega tendência a nível mundial”, mas que há outras que é preciso não esquecer: a globalização dos negócios, as alterações climáticas, o envelhecimento da população e a urbanização das sociedades.

O gestor defendeu que a modernização das indústrias é um “factor crítico de sucesso” e disse que em Portugal estamos a viver uma “transição tecnológica” e a assistir a uma “revolução silenciosa”. Isto porque “não é a carcaça das fábricas que se está a modernizar, mas antes os processos”. O que só é possível devido à internet of things. A ditigalização, frisou, baixa os preços, melhora a qualidade e os prazos de entrega.

Mas terá de haver “inteligência no investimento”. “O problema dos empresários portugueses é quando fazem investimentos que não têm retorno. Aí estão a tirar competitividade às empresas. Todos os investimentos têm de ter retorno e ser sustentáveis para o próprio negócio”, frisou o gestor.

Ainda antes da intervenção do presidente da Siemens Portugal, já António Poças, líder da Nerlei, tinha dito que “a digitalização da economia não é uma moda, é uma realidade com que lidamos todos os dias”.

Jorge Portugal, director-geral da Cotec, lembrou que a chamada quarta revolução industrial “está a acontecer para toda a gente ao mesmo tempo” e tirar o máximo partido dela “não depende especificamente da geografia” . Por isso, os factores de competitividade “não são físicos, mas intangíveis”, e entre eles contam-se, por exemplo, a criatividade e o talento.

Embora hoje “não se ganhe dinheiro no chão de fábrica”, há que cuidar dele para ganhar a montante e a justante, defendeu este interveniente. Por outro lado, há que apostar na reorganização das cadeias de valor. A “batalha da educação” foi outro dos aspectos que Jorge Portugal destacou, defendendo que vai ser preciso mudar a forma como hoje se aprende, ainda muito assente na memorização.

Além disso, é precisa uma maior ligação entre sistema de ensino e tecido empresarial. Por enquanto, as escolas “não estão preparadas para estar um passo à frente das necessidades das empresas, nem estas estão sempre disponíveis para abrir as portas e explicar as suas necessidades”, apontou o director-geral da Cotec.

Jorge Portugal apontou ainda dois desafios que as empresas terão de ultrapassar. Um é a escala, mais mental do que física, já que muitas vezes poderão ter de se associar para conseguir conquistar mercados lá fora. O outro é a transição para a economia circular, porque continuamos a ser “perdulários na utilização de recursos”.

Rui Tocha, director-geral da Pool-net, afirmou que “o chão de fábrica é a parte mais difícil” no contexto da digitalização, e admitiu que a “grande dificuldade” será a adaptação de funcionários, técnicos e gestores das empresas a uma realidade que “tem pontos críticos que não conseguimos dominar”. Até porque para sermos mais competitivos e fazermos melhor “temos de estandardizar alguns procedimentos”.

As empresas “têm de tirar proveito da tecnologia”, porque senão caem naquilo a que Rui Tocha chamou de “armadilha tecnológica”. Ou seja, investem muito, mas retiram pouco dos equipamentos em que investiram. Só para que tirarem o devido proveito não é possível manter equipas em que cada membro faz as coisas à sua maneira.

No que a investimentos diz respeito, “os empresários da região não necessitam que se lhes dêem lições”, porque têm tido um sucesso muito grande nas suas empresas e afirmação no mercado internacional.

Contudo, “para darmos um salto grande, precisamos de maior projecção internacional, de maior visibilidade daquilo que fazemos bem”. Por outro lado, e apesar de termos “indústria e escolas de ponta, e pessoas muito competentes, precisamos de atrair mais gente para continuarmos a ter indústria de futuro”.

Da assistência, Nuno Rodrigues, vice presidente do Politécnico de Leiria, referiu que há muito que os cursos da Escola Superior de Tecnologia e Gestão estão ajustados aos novos desafios e paradigmas da economia. Deu como exemplo o novo mestrado em engenharia para fabricação digital directa. “Não sabemos bem como serão os profissionais do futuro, mas sabemos que terão de ter competências transversais”

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