Economia

“Digitalização é uma oportunidade para estruturar e organizar a indústria”

26 out 2024 12:22

Ralf Dürrwächter, director-geral da VDWF, associação alemã que representa as indústrias dos moldes e ferramentas, oferece uma visão comum à Alemanha, Portugal e restantes países da União Europeia sobre os desafios e oportunidades que as políticas ESG apresentam para os sectores dos moldes e plásticos

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DR
Ralf Dürrwächter
Jacinto Silva Duro

No âmbito das políticas ESG (Environmental, Social, and Governance), a indústria de fabrico de ferramentas enfrenta múltiplos desafios decorrentes de questões como as alterações climáticas, a conservação de recursos e o respeito pelos Direitos Humanos, ao longo da cadeia de abastecimento.

Estas questões não só estão a ser mais incorporadas na legislação, como também são exigidas às empresas pelos próprios clientes e investidores.

A sustentabilidade, sublinha Ralf Dürrwächter, director-geral da VDWF, associação alemã que representa as indústrias dos moldes e ferramentas, “vai muito além da simples preocupação com o ambiente e a biodiversidade”.

É necessário ter em conta os aspectos Ambiental, Social e Governança e prestar atenção, por exemplo, a condições de trabalho ou garantir que a gestão empresarial cumpre as leis, regulamentos e padrões éticos, relatando as medidas tomadas.

“Como a sustentabilidade afecta as empresas de várias formas, é natural que também tenha de ser abordada de diferentes maneiras”, considera o responsável. Para isso, deve sempre considerar-se toda a cadeia de valor de uma empresa, incluindo os processos a montante e a jusante.

Ralf Dürrwächter adverte que as organizações que ainda não encontraram uma resposta para as suas questões de sustentabilidade terão dificuldades em ser bem-sucedidas, inclusive na rentabilidade a longo prazo.

Sublinha que os três aspectos do ESG estão “intrinsecamente ligados”, e tanto os colaboradores como os clientes exigem acções em todas estas áreas.

"Os fabricantes de ferramentas têm de fazer mais do que simplesmente construir ferramentas; precisam de lidar com todos os aspectos da sustentabilidade.”

Quanto ao impacto a curto prazo na competitividade, especialmente nos mercados fora da UE, este responsável reconhece que abordar adequadamente estas questões terá inicialmente custos em termos de recursos, tempo e dinheiro.

“A curto prazo, haverá quem considere esta questão como uma desvantagem competitiva.”

No entanto, vê uma grande oportunidade na perspectiva de que, mais cedo ou mais tarde, os clientes de todo o mundo farão as mesmas exigências.

Se as empresas aproveitarem sistematicamente os potenciais de desenvolvimento e poupança de custos ligados ao desafio da sustentabilidade, “abrir-se-ão uma miríade de vantagens competitivas”, especialmente em relação aos concorrentes que se baseiam unicamente na oferta de preços baixos.

O director-geral da VDWF recorda que a sua organização introduziu o uso de um selo de Compromisso com a Gestão Sustentável, que permite às empresas demonstrarem a sua conformidade com os princípios da sustentabilidade.

“Esta medida torna imediatamente claro para os clientes e parceiros de negócios que uma determinada empresa está a alinhar as suas operações com a sustentabilidade, factor competitivo cada vez mais importante a nível internacional.”

“Quase todas as indústrias estão a lutar para atrair jovens”

Abordando a questão da escassez de mão-de-obra qualificada, um problema significativo no sector, tanto na Alemanha como em Portugal, reconhece que esta é uma questão generalizada e sugere que os estágios em férias para estudantes do ensino secundário podem ser uma das abordagens possíveis para atrair talentos, mas ressalva a necessidade de um esforço mais amplo para tornar o fabrico de ferramentas numa profissão mais atraente.

“Quase todas as indústrias estão a lutar para atrair jovens, independentemente de se tratar da área da tecnologia da saúde ou outros”.

Recomenda, no caso português, a utilização de estágios de férias para estudantes do ensino secundário como uma forma de atrair jovens talentos e estratégia útil para as empresas portuguesas enfrentarem a escassez de mão-de-obra qualificada.

No entanto, salienta, isto deve fazer parte de um esforço mais amplo para tornar a indústria atraente para os jovens.

Já o equilíbrio entre a experiência dos trabalhadores mais velhos e a necessidade de atrair novos talentos assemelha-se difícil para o tecido empresarial português, uma vez que o País enfrenta desafios demográficos significativos.

As empresas portuguesas poderiam avaliar o emprego de programas de mentoria ou de transferência de conhecimentos, para “garantir que o know-how valioso dos trabalhadores mais experientes não se perca”, quando estes se reformam.

Embora a introdução de ferramentas digitais seja importante, as estruturas de negócio nacionais devem também valorizar e manter as suas capacidades de interacção presencial e demonstração técnica.

É que, como chama a atenção, embora a pandemia de Covid-19 tenha rompido novos caminhos em termos do teletrabalho, a verdade é que, em tarefas mais específicas e de grande complexidade técnica, como as que existem nos moldes e plásticos, situações de trabalho à distância não são exequíveis.

No que diz respeito à incorporação futura de IA e robótica, Dürrwächter vê a digitalização como uma oportunidade para estruturar e organizar a indústria, tornando os dados acessíveis “em situações que vão além das capacidades humanas”.

“Isto é essencial para documentar em detalhe processos complexos e recorrentes, mas também muito rápidos ou para simular estes processos. A digitalização na produção dá às pessoas a liberdade de serem criativas e permite-lhes ultrapassar os seus limites e testar vários cenários sem correr riscos”, afirma.

No entanto, aponta “a existência de demasiadas soluções isoladas”.

É por isso que lidar com os problemas de interface decorrentes da digitalização é, muitas vezes, mais difícil do que trabalhar em ambiente real.

O responsável ressalva a necessidade de uma abordagem holística à sustentabilidade da ESG, reconhecendo os custos iniciais, mas destacando os potenciais benefícios a longo prazo em termos de competitividade e inovação.

Para o sector português de moldes e plásticos, estabelece pontos de reflexão necessária, nomeadamente, a adopção de práticas sustentáveis, não apenas como obrigação regulamentar, mas como vantagem competitiva, que é particularmente relevante num mercado global, cada vez mais consciente e aberto às questões levantadas pela ESG.

Ralf Dürrwächter sublinha que, embora existam desafios significativos, também há oportunidades substanciais para as empresas que estão dispostas a adaptar-se e a inovar.

“Para o sector português de moldes e plásticos, conhecido pela sua capacidade de adaptação e excelência técnica, estas ideias podem servir como um catalisador para uma maior inovação e crescimento sustentável”, resume.

Ao executar uma abordagem proactiva à sustentabilidade, ao investir no desenvolvimento de talentos e ao abraçar a digitalização de forma estratégica, os moldes e plásticos podem “empreender um caminho de sucesso a longo prazo, num mercado global em rápida evolução”.

Abstract: Larger companies are passing ESG regulations down to their suppliers
 
Ralf Dürrwächter, Director-General of VDWF, the German association representing the mould and tool industries, provides some insights into the challenges and opportunities presented by ESG (Environmental, Social, and Governance) policies in the industry.
 
The toolmaking sector faces multiple challenges, stemming from climate change, resource conservation, and Human Rights considerations, along product supply chains.
 
These issues are increasingly becoming part of legislation and are demanded by customers and investors.
 
Larger companies are passing ESG regulations down to their suppliers, affecting smaller businesses as well. Sustainability encompasses more than environmental concerns, requiring companies to consider all three ESG aspects.
 
This includes ensuring adequate working conditions and adherence to laws, regulations, and ethical standards.
 
Dürrwächter emphasises that companies must approach sustainability as a whole, considering the entire value chain.
 
While implementing ESG policies may initially be resource-intensive and potentially create short-term competitive disadvantages, especially in non-EU markets, Dürrwächter sees long-term benefits.
 
The VDWF has introduced a ‘Commitment to Sustainable Management’ seal, allowing companies to demonstrate their alignment with sustainability principles, which is becoming an increasingly important competitive factor internationally.
 
Regarding the industry’s challenges in attracting skilled labour, Dürrwächter acknowledges that this is a widespread issue across various sectors.
 
The Director-General believes that high school student internships could be one of many approaches to attract young talent, but emphasises the need for a broader effort to make toolmaking more appealing as a profession.
 
On the topic of AI and robotics, Dürrwächter sees digitalisation as an opportunity to manage complex processes and data beyond human capabilities.
 
However, he points out that the lack of standardisation and the prevalence of siloed solutions often complicate the effective implementation of digital processes.