Viver

Diana Catarino, saxofonista: "'Reinvenção' é uma palavra que me assenta como uma luva"

26 fev 2021 10:22

Nasceu na Maceira, há 32 anos, numa família de músicos. O avô era saxofonista na Banda Filarmónica da Maceira e a mãe também por lá passou, a tocar o mesmo instrumento

diana-catarino-saxofonista-reinvencao-e-uma-palavra-que-me-assenta-como-uma-luva
Diana Catarino iniciou o contacto com a música aos 4 anos
Ricardo Graça
Jacinto Silva Duro

O que mais lhe agrada? A música clássica ou participar em bandas alternativas?
Ao longo da minha carreira já fiz concertos na área da música clássica e na de música de conjunto. Participei na fundação da Orquestra Marquês de Pombal, uma tentativa de criar uma banda sinfónica em Leiria, só com músicos profissionais de Leiria. E éramos quase 50. Tenho de separar as coisas. Já fiz muitas coisas diferentes. Toquei com bandas filarmónicas e orquestras sinfónicas - estou ligada ao Lusitanus Ensemble, que irá gravar um disco este ano, apenas com música de compositores nacionais -, e, também na música clássica, toquei com pianistas clássicos... Em paralelo, mantenho um lado alternativo, com ligação à cena alternativa de Leiria, com o mARCIANO ou com o Fuzil, que é uma banda de Alcobaça, e, já em 2020, toquei com o Carlos Matos e lancei um alterego, Izalah, para a banda dele, os Ode Filipica (Libera nos a malo).

Um alter-ego?
Sim, é uma parte sombra... uma parte negra. O nome pode ler-se como exalar, de “soprar”, embora não se escreva assim, tem um som semelhante, e tem um lado místico associado. Apareço como Izalah porque as coisas que faço na música clássica ou quando animo eventos corporativos e de luxo, são universos diferentes. Parece-me que seria chocante para os meus alunos dos Conservatórios verem-me com aquele lado que aparece às cores, mais sexy e muito mais selvagem. Senti que deveria criar esse alter-ego. Na realidade, embora a Izalah tenha aparecido no Verão passado, ela existe há muito tempo sem nome. Há uns anos, cheguei mesmo a cantar e a tocar jazz, mas desisti, não me conseguia ver como cantora.

Mas o jazz está presente no seu trabalho?
O meu último ano de estudo em França foi em jazz na American School of Modern Music, em Paris. Não me considero, de todo, uma pessoa da área do jazz. Sou uma saxofonista ecléctica. O público identifica o jazz com o saxofone, mas o instrumento não tem um estilo associado. É apenas uma etiqueta virtual! Foi inventado em meados do século XIX, por Adolphe Sax, para ser utilizado na música clássica. Só no início do século XX é que aparece o jazz. Durante mais de seis décadas, foi apenas utilizado na música clássica. Apenas após isso aparece a ligação indelével com o jazz, com a migração do saxofone para os EUA e a sua popularização naquele estilo musical. Não sou saxofonista de jazz mas sou uma pessoa que cria e improvisa... e o improviso é a base do jazz.

Perfil
Herança de família
Diana Catarino nasceu na Maceira, há 32 anos, numa família de músicos. O avô era saxofonista na Banda Filarmónica da Maceira e a mãe também por lá passou, a tocar o mesmo instrumento. "Ela ainda hoje faz da música a sua profissão. É cantora lírica e dirige um coro", conta Diana.

Iniciou o contacto com a música aos 4 anos e, durante 16 anos, manteve uma participação constante na banda da terra. "Comecei na SAMP e escolhi o saxofone devido à história familiar." Fez licenciatura em saxofone clássico e mestrado em Ensino da Música, na Escola Superior de Música de Lisboa.

Esteve três anos a estudar em França, onde tirou o Diplôme d'études musicales (DEM) e passou ainda pela American School of Modern Music, em Paris. De regresso a Portugal deu aulas em Conservatório.

"Era para ter ido para a Berkeley School of Music, mas acabei por ficar por cá, porque tive logo emprego no Conservatório de Música de Coimbra", recorda.

Onde está a dar aulas?
Não estou a ensinar em nenhuma instituição. É tudo online. Qualquer pessoa em qualquer parte do Mundo que queira ter aulas comigo, só precisa de descarregar a aplicação que criei e inscrever-se. O curso SmartSax começou com uma oficina presencial para adultos que quisessem aprender saxofone do zero, num fim-de-semana e continuariam se quisessem. Para os meus alunos, lancei ainda uma marca de saxofone chamada também SmartSax, e que está à espera da estreia no regresso às aulas presenciais. Na aplicação o aluno recebe informações e material de estudo e gere as aulas. Há mesmo manuais que escrevi e que só estão acessíveis pela aplicação. O SmartSax é um livro, uma oficina e uma marca de saxofones. Não se pode parar porque a crise é uma constante da vida. Desde que nasci que há crise! "Reinvenção" é uma palavra que me assenta como uma luva.

Foto: Ricardo Graça

Quais são os seus planos para este ano, além do disco com o Lusitanus Ensemble?
Tenho um projecto quase a sair chamado Express Années Folles, que se dedica apenas a música clássica dos anos 20, do século XX, e espero continuar a fazer eventos corporativos e casamentos. Quero ainda continuar a colaborar com as bandas de música alternativa. Estou igualmente a preparar um projecto ligado à juventude. Será um estágio de Verão, realizado na Maceira, que funde a música ao desporto. Normalmente, há actividades desportivas e há actividades de música, separadas. Parece que as pessoas que vão para um ou para o outro não podem associar as duas coisas. A filosofia fundamental é "mente sã em corpo são". Será prática desportiva todos os dias e música a acompanhar, para jovens até aos 18 anos. É uma co-organização com a Junta de Freguesia da Maceira.