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De Rihanna a uma princesa no Catar, chega longe a arte da Gárgula Gótica

19 fev 2023 12:58

Empresa da Batalha é uma referência na cantaria artística e na escultura

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Alzira Antunes (ao centro) é uma antiga aluna da escola de cantaria artística do Mosteiro da Batalha. Na actualidade, a Gárgula Gótica conta com uma equipa permanente de seis canteiros, escultores e técnicos de conservação e restauro
Ricardo Graça

No ano em que assinala 25 anos de actividade, a Gárgula Gótica está a executar o projecto mais valioso de sempre, uma fachada de estilo art nouveau, num edifício de habitação, em Espinho.

Ao longo de duas décadas e meia, os trabalhos de escultura e cantaria artística em pedra natural, realizados maioritariamente para fora de Portugal, tornaram a empresa da Batalha numa referência – e incluem, por exemplo, o pedestal em mármore português (12 exemplares) realizado por encomenda do estúdio de design The Haas Brothers para a versão ultra luxo da autobiografia da cantora Rihanna, lançada em 2019, no Guggenheim Museum, em Nova Iorque.

No portefólio da Gárgula Gótica descobrem-se também, entre outras, obras para uma princesa no Catar e para lojas de uma grande marca de moda internacional.

Actualmente, além da fachada art nouveau em Espinho, a empresa tem em mãos a réplica de uma estátua de Santa Bárbara (para Braga) e uma série de candeeiros para um designer norte-americano (através de um cliente português). Está também a desenvolver a nova colecção de marca própria, a Manta Handmade Stone Design, com foco nas peças utilitárias e decorativas, a apresentar este ano em França, na feira Maison & Objet. “Super exclusivas, só fazemos cinco de cada”, explica Alzira Antunes, fundadora e gestora da Gárgula Gótica.

Escultura, cantaria artística e conservação e restauro, as diferentes áreas em que a empresa actua, na hotelaria, habitação ou em espaço público, encontram-se, na verdade, interligadas. E embora, por vezes, sejam utilizadas máquinas de controlo numérico computorizado (CNC) para os desbastes maiores, “99 por cento” das peças “são esculpidas à mão” e são “peças únicas”.

Alzira Antunes é uma antiga aluna da escola de cantaria artística do Mosteiro da Batalha, onde aprendeu com “o mestre Alfredo” e onde veio a participar no restauro do muro norte do monumento, o que implicou, por exemplo, a execução de 116 novas flores de lis.

Na actualidade, além de colaboradores pontuais e estágios, a Gárgula Gótica conta com uma equipa permanente de seis canteiros, escultores e técnicos de conservação e restauro, incluindo um técnico alemão e uma técnica italiana. Conseguir mão-de-obra “é difícil”, porque, apesar de existirem em Portugal “muitos canteiros com formação”, muitos deles “dedicaram-se a outras áreas ou emigraram”.

Por outro lado, o posicionamento da empresa da Batalha não se limita à competência técnica. Pelo contrário, pretende funcionar como ponte entre o artista e a arte, quer se trate de uma miniatura ou de uma escultura monumental, e tanto trabalha com artistas e designers como com artesãos, em Portugal e fora de fronteiras. O que significa dar ideias e contribuir com criatividade. “Tentamos perceber o que o cliente quer”, explica Alzira Antunes. “Damos muitas sugestões e fazemos muitas propostas em que nós é que fazemos os desenhos”.

A pedra ónix é o material mais invulgar já trabalhado pela Gárgula Gótica, mas os desafios são constantes e muitas vezes chegam de onde menos se espera. “Ainda ontem fui contactada por uma empresa da África do Sul”. O restauro da estátua de D. Fernando, da autoria de Leopoldo de Almeida, em Santarém, e a fachada ornamental com leões e elementos florais para um hotel em Lisboa desenhado pelo arquitecto Luís Rebelo de Andrade são projectos de referência. O mais complexo, no entanto, continua a ser a mesa de pedra verde serpa, com vários planos em intersecção, encomenda do designer francês Noé Duchaufour Lawrence.