Sociedade

Convidados de todo o mundo na festa do cão mais velho do mundo, em Leiria

13 mai 2023 21:13

Veterinários internacionais estão a estudar Bobi, um cão com 31 anos, dos Conqueiros, Leiria, que está no livro de recordes do Guiness

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“Pelo Bobi vale tudo. Ele merece”, diz o dono. “É um anjo”
Jornal de Leiria

Nasceu no dia 11 de Maio de 1992, em Conqueiros, aldeia do concelho de Leiria. Bobi é o cão mais velho do mundo e neste sábado realizou-se a festa dos seus 31 anos de idade, com uma centena de convidados de vários pontos do mundo, na sequência do desafio do Guiness.

“Não pôde ser no seu dia de aniversário, porque alguns veterinários estrangeiros queriam estar presentes e não podiam vir na quinta-feira”, explicou Leonel Costa, que tem “pessoas inscritas para conhecer o Bobi até Junho”.

Além da imprensa nacional, também jornalistas estrangeiros marcaram presença na comemoração, além dos amigos e especialistas.

Desde o ano passado, Bobi tem o seu nome no Guinness World Records como o cão mais velho do mundo e de sempre, depois de um processo longo e burocrático.

Na festa, com um orçamento estimado de 1.000 euros, não faltaram mimos, presentes, incluindo, do dono, uma moldura personalizada com a foto do cão, também o bolo, os diplomas do Guinness e, na ementa, dourada e porco no espeto, para um aniversariante que só não gosta de esparguete à bolonhesa.

“Foi aqui que o Bobi sempre viveu e quisemos que a festa de aniversário fosse no seu espaço”, num dia “mais bonito” e com “os seus pratos favoritos”, contou Leonel Costa.

“Pelo Bobi vale tudo. Ele merece”, salientou. “É um anjo. Não é um cão nada protector. Se alguém entrar em casa, ele deixa. É muito sociável, é um doce e adora animais e pessoas”.

Escapou à morte

Bobi veio ao mundo numa época em que o destino da ninhada era a morte, mas, camuflado no meio da lenha, cor de mel, escapou ao mesmo fim dos seus três irmãos. Leonel Costa escondeu-o, contra a vontade dos pais, o que lhe valeu um ralhete, quando descoberto. “Mas valeu a pena”, diz, sobre o rei da festa, que considera como um filho.

Em 2018, Bobi sofreu um AVC [acidente vascular cerebral] e “esteve mais de um mês e meio internado”. Até esse ano, sempre foi um cão saudável. “Pensei que não ia resistir, mas os bons veterinários ajudaram-nos e superou”, recorda Leonel Costa.

Actualmente, apresenta problemas comuns da idade e foi-lhe diagnosticado síndrome de cushing, que faz que com os órgãos deixem de funcionar correctamente.

Bobi não tem descendentes, pelo que Leonel Costa admite recorrer a inseminação artificial para garantir a continuidade da linhagem. “Guardámos o sémen para inseminar numa cadela que não esteja castrada”, revelou o dono.

Quanto ao funeral, “o corpo não será dado para a ciência, como muitos querem”, assegura.

O segredo da longevidade

Aos convidados, Leonel Costa só pediu “amor e carinho” e dois veterinários internacionais presentes na festa acreditam que a liberdade e a vida social rica constituem o segredo da longevidade do cão mais velho do mundo.

Para a norte-americana Karen Becker, a “boa comida de humano”, que Leonel lhe prepara diariamente, “sem conservantes ou ingredientes sintéticos que não foram altamente processados e com uma quantidade abundante de diferentes nutrientes”, também tem beneficiado Bobi, que “come peixe todos os dias e o peixe contém ácidos gordos, o ómega 3, dha/epa que nutre o seu cérebro, as células do sangue e a sua pele”.

E terá uma genética excepcional? “Se calhar tem, se calhar não, mas isso terá de ser analisado. Daqui a cerca de dois meses saberemos. Por agora, sabemos que o seu estilo de vida colaborou para a sua longevidade”, disse.

O que é certo é que “uma vida sem grande stress” também ajuda o patudo, que “tem a floresta e um jardim bonito todos os dias, onde ele próprio selecciona ervas e vegetais que gostaria de comer e faz exercício diariamente”.

Por que motivo alguns cães vivem mais?

Karen Becker é responsável por um estudo com vários testes que pretende compreender porque alguns cães têm uma vida extremamente longa.

“O laboratório de topo de microbiota dos Estados Unidos analisou a bactéria da microbiota e basicamente disse que, comparado às centenas e milhares de amostras que analisaram ele [Boib] era um ‘unicórnio’. Tinha mais colónias e diversificadas comparativamente com todos os cães que já viram. Quando perguntámos aos microbiologistas a que é que atribuíram essa diversidade, acreditam estar relacionada com a sua dieta”, revelou.

A presença da veterinária em Leiria tem por objectivo perceber “a razão para o Bobi viver tanto tempo”, se “por causa de uma anomalia genética, uma genética específica, ou devido ao ambiente onde se encontra”.

“O que descobrimos, depois de falar com mais seis donos dos cães mais velhos do mundo, é que todos têm variáveis muito comuns. Todos alimentam os seus cães com comida variada e feita em casa. Os cães não comem comida de cão. Todos eles podem estar ao ar livre e fazer muito exercício. Têm uma vida com pouco stress, pouca exposição a químicos, como pesticidas e consomem poucos medicamentos veterinários”, conclui a especialista.

Karen Becker é autora de um livro que foi número um no New York Times acerca da longevidade dos cães e está a escrever o segundo, sobre todos os cães que viveram mais tempo.

Histórico e inspirador

Também presente na festa de aniversário de Bobi, Peter Dobias, um veterinário do Canadá, considera que se tratou de um evento “talvez histórico” e “inspirador”.

“Todos desejamos ter uma vida longa e queremos que os nossos cães vivam o máximo possível, tendo uma boa vida”, afirmou.

“Ver como é que o Bobi vive permite-nos ter a certeza por que todos nós tentamos ser perfeitos no que fazemos e como o fazemos. E vemos que a parte mais importante é a liberdade, o amor e simplesmente boa comida”, acrescentou.

Segundo Peter Dobias, para um cão viver 31 anos, “tem de ter sorte para ter os genes correctos, a casa certa, as circunstâncias correctas e amigos”.

“O Bobi tem amigos e uma excelente família. Além disso, vive numa zona rural. Não está numa trela, nem tem coleira”, destacou.