Sociedade

Contra o demónio, orar, orar

6 abr 2017 00:00

Na diocese de Leiria-Fátima não há registo de exorcismos, mas, em Ourém, o pároco João Pina Pedro luta todos os dias contra o demónio, seguindo os conselhos do Papa Francisco.

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Exorcismos, exorcistas e tentações diabólicas. O padre João Pina Pedro, responsável pelas paróquias de Urqueira e Casal Bernardos, no concelho de Ourém, não faz mais do que ir ao encontro do chefe da Igreja Católica, quando descreve a interferência dos espíritos malignos na vida de todos os dias. Desde que se tornou sumo pontífice, em 2013, por várias vezes o Papa se referiu em público ao tema. Apoiado na Bíblia e na tradição, Francisco sublinha que o diabo existe, defende que um dos pilares da vida cristã é a batalha contra o demónio e aconselha o exorcismo quando a inquietação espiritual é grande. Esta última recomendação, proferida num encontro com sacerdotes, em Roma, foi notícia há menos de um mês.

Com o pontificado do Papa Francisco veio o reconhecimento jurídico da Associação Internacional de Exorcistas (AIE), que viu os estatutos aprovados à luz do código de direito canónico pela Congregação para o Clero, junto da Santa Sé.

Fundada pelo padre Gabriele Amorth, o mais famoso dos exorcistas, chega aos 300 membros em todo o mundo. E um dos raros padres portugueses sócios da AIE é justamente o pároco da Urqueira e Casal Bernardos, que atende cinco a 10 pessoas por semana no âmbito do ministério da cura e libertação. Em 17 anos de missão, João Pina Pedro diz ter encontrado meia dúzia que considera que estavam possuídas, porque se entregaram, de livre vontade, a esse caminho. Não executa exorcismos, mas recorre a exorcistas como o padre Sousa Lara, da diocese de Lamego.

Acredite-se ou não, existem regras e penas, publicadas pela Igreja, em documentos oficiais. O baptismo de crianças é um exorcismo simples, que pretende protegê-las.

De acordo com o catecismo católico, o chamado grande exorcismo ou exorcismo solene só pode ser praticado por um presbítero com licença do bispo e consiste numa celebração litúrgica com preces e gestos que visam expulsar o maligno e travar a possessão diabólica de pessoas e objectos. Casos extremamente raros, em que se manifesta a aversão a símbolos religiosos e aos lugares de culto, força acima do normal e utilização de línguas desconhecidas, explica o padre João Pina Pedro. Mais frequente é – afirma – a luta, através da confissão, da oração, da eucaristia, da bênção e de outros sacramentais, contra expressões menos graves da influência do demónio. Desde logo, a tentação, isto é, o incitamento ao mal através do pensamento e da imaginação, descreve o pároco natural da freguesia de Pousos, Leiria. Há também a infestação, o envolvimento, a obsessão e, em contextos extremos, a possessão, quando se verifica poder sobre o corpo, os movimentos e as palavras. "Já vi pessoas a falarem espanhol, árabe, inglês, sem nunca terem aprendido, já vi pessoas com ataques de fúria terríveis, já ouvi muita gente a dizer-me que tem visões", relata.

Resposta na diocese
Na diocese de Leiria-Fátima não há qualquer padre exorcista nomeado pelo bispo D. António Marto. Cabe aos sacerdotes lidar com as perturbações psico-espirituais e distinguir as doenças físicas, psicológicas e psiquiátricas dos sintomas sem explicação natural, sempre tendo presente que a Igreja olha para o ser humano como a combinação dos planos físico, psíquico e espiritual. Tudo passa pelo acolhimento, escuta, diálogo, pelo regresso a Deus e à vivência cristã. Casos mais problemáticos são enviados para o missionário leigo Joaquim Dias, no Santuário de Fátima. 

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