Sociedade
Construir hospital no Bombarral é "decisão desastrosa" diz director do CEDRU
“Uma decisão muito insuficiente e que terá custos para todos, para o País, para a região e para municípios"
O director do Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano (CEDRU) considerou esta terça-feira que a construção de um hospital no Bombarral “entrará para o 'top' das decisões mais desastrosas” tomadas em Portugal.
“Na óptica do ordenamento do território e desenvolvimento regional, trata-se de uma decisão desastrosa que entrará para o top das decisões mais desastrosas tomadas em Portugal, sobre localização de equipamentos e de infraestruturas”, afirmou o diretor do CEDRU, Sérgio Barroso, numa assembleia sobre a localização do novo hospital do Oeste (NHO), realizada na terça-feira à noite nas Caldas da Rainha.
Sérgio Barroso, que coordenou um parecer técnico sobre os critérios a considerar para a localização do NHO, criticou o relatório do grupo de trabalho que esteve na base da decisão de construir esta unidade no Bombarral, no distrito de Leiria, anunciada pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro.
Em termos de implicações para o território, o relatório “é de uma profunda incompetência”, afirmou o director do CEDRU, considerando igualmente de “uma enorme insensatez política” a forma como foi conduzido o processo de decisão sobre a localização do hospital.
O especialista em ordenamento do território criticou a “falta de transparência” do relatório a que apontou falhas na definição da rede hospitalar e na desvinculação ao Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT).
A construção do hospital no Bombarral “obriga a uma decisão do Conselho de Ministros de alteração do PROT, para permitir que um equipamento desta natureza se possa localizar numa cidade que não seja Caldas da Rainha ou Torres Vedras”, disse, sublinhando que “as grandes infraestruturas devem-se localizar nos principais centros urbanos e expressando “perplexidade” por não ter sido consultada a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo.
O responsável pelo estudo técnico encomendando pela autarquia das Caldas da Rainha, lamentou que, ao contrário do que sugeria este documento, na tomada de decisão não tenham sido tidos em conta “multicritérios”.
Para este responsável foram “insuficientes” os critérios sectoriais atendidos no relatório por não terem em conta as dimensões climáticas e sociais de um investimento na ordem dos 200 milhões de euros, que poderia ser “uma alavanca de desenvolvimento económico, de inovação territorial, de competividade”.
Para Sérgio Barroso a escolha da Quinta do Falcão, no Bombarral é ainda “totalmente desarticulada do sistema de mobilidade urbana sustentável”, dada a distância à estação do caminho de ferro, facto também criticado na assembleia por um representante da associação ambientalista Zero.
Ou, seja, trata-se de “uma decisão muito insuficiente e que terá custos para todos, para o País, para a região e para municípios, concluiu o director do CEDRU, rematando que seria “de grande utilidade para todos evitá-la”.
A assembleia extraordinária que teve como ponto único a discussão da localização do NHO contou com a presença de mais 500 populares, que defenderam a intensificação das acções de luta a favor da construção do hospital nas Caldas da Rainha .
O presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Vítor Marques, afirmou no final da sessão que vão ser analisadas as várias propostas apresentadas e definidas as formas de protesto.
O NHO substituirá o actual Centro Hospitalar do Oeste, que integra os hospitais das Caldas da Rainha e de Peniche, no distrito de Leiria, e de Torres Vedras, no distrito de Lisboa.
Estas unidades têm uma área de influência constituída por estes concelhos e os de Óbidos, Bombarral (ambos no distrito de Leiria), Cadaval e Lourinhã (no distrito de Lisboa) e de parte dos concelhos de Alcobaça (Leiria) e de Mafra (Lisboa), abrangendo 298.390 habitantes.