Viver

Collippo, o segredo desconhecido mais conhecido da Batalha e de Leiria

24 mai 2018 00:00

A cidade romana de Collippo foi saqueada, usada como pedreira para construir Leiria, trucidada e destruída com máquinas de rastos, nos anos de 50 e 60, e até usada como campo de tiro pelo Regimento de Artilharia 4, de Leiria

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Jacinto Silva Duro

Hoje, o que sobra deste património, continua esquecido. 

“Olá! Eu sou a Vitória e tenho muito boa memória! Vivi na Batalha há mais de 2000 anos, no tempo dos romanos. Collippo: a minha fascinante cidade chamava- se assim. Metade desta palavra vem do Latim.”

É assim que a personagem criada por Ana Moderno e Rui Cunha dá as boas-vindas a quem lê o livro infanto- juvenil Vitória, a romana que viveu na Batalha. Ao longo de várias páginas, os autores dão a conhecer um dos mais conhecidos e, ao mesmo tempo, mais desconhecidos episódios do passado comum dos municípios da Batalha e Leiria: o município romano que tinha a cidade de Collippo, como capital.

O local está dividido entre os concelhos de Leiria e da Batalha, sendo que a maior parte estaria edificada em terreno batalhense, na actual freguesia de Golpilheira, no topo da colina de São Sebastião do Freixo, onde, hoje, existe a actual aldeia de Colipo.

O subsolo da nova aldeia esconde um segredo bem guardado e poucos ou mesmo nenhuns sinais revelam que ali, há mais de dois mil anos, existiu uma cidade romana, fundada 200 anos antes de Cristo, que, no seu auge, no século II d.C., foi lar de quatro mil almas, súbditas de César e do Império Romano.

Vitória conta como nasceu, naquele local seguro e fortificado, a cidade, que foi uma das principais localidades romanas na região Centro. Conta ainda como os seus habitantes cultivavam cereais, caçavam, construiam habitações modernas e arejadas, rezavam no templo dedicado a Minerva e tratavam dos assuntos administrativos no grande forum da localidade, onde consultavam advogados, magistrados e médicos.

Collippo terá ocupado, na sua maior extensão entre 8 a 9 hectares, no século II d.C. Segundo o investigador João Pedro Bernardes, que lhe dedicou a sua tese de doutoramento, desconhecendo-se o que terá acontecido à cidade após a queda do Império e recuo das legiões para a Península Itálica, a fim de defender Roma das invasões germânicas.

O local foi saqueado durante séculos, as suas pedras foram reutilizadas para construir diversas edificações novas, entre elas o Castelo de Leiria onde lápides funerárias romanas e restos arquitectónicos foram reaproveitados nas muralhas da fortaleza e, na entrada para a cidadela, é possível encontrar uma grande pedra com inscrições em Latim.

Enterradas, existem apenas algumas paredes que escaparam à destruição realizada com máquinas pesadas nos anos 50 e 60 do século XX. Nos museus da Batalha e de Leiria, existem algumas peças descobertas ao longo de várias sondagens arqueológicas.

Destaque para a figura em mármore de um magistrado romano, desenterrada durante as escavações ali feitas entre 1963 e 1966, que se encontra no Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, de um mosaico com a representação de um hipocampo, que se encontra no Museu Nacional de Arqueologia, ou de várias moedas romanas que podem ser admiradas no Museu de Leiria.

Mas há relatos de vários moradores que terão encontrado peças romanas ao construir as suas casas e que as terão guardado, sem comunicar às autoridades. É um comportamento comum por não haver ali uma zona de protecção, como as que existem no Campo de São Jorge ou no Castelo de Leiria.

Há também habitações que ostentam capitéis, colunas e bases, como elementos decorativos, em toda a região. Era uma cidade “relativamente modesta”, avança o investigador João Pedro Bernardes, autor do livro A região de Leiria na Época Romana (Cepae - 2008). Collippo implantou-se no mesmo local onde existia um antigo castro pré-romana, provavelmente, túrdulo.

A cidade teve uma vida curta, pois estava implantada no topo de uma colina, que não era favorável para a expansão territorial, em tempo da paz, que se verificou no território a partir do século II. Com a queda do Império, manteve-se uma pequena localidade e os povos bárbaros que a ocupam, criam ali uma pequena igreja.

Mas o fim de Collippo estava traçado e, na Idade Média, as populações circundantes passavam a usar a cidade como pedreira, retirando os blocos que já estavam aparados e reutilizando-os em novas construções, na área do antigo concelho de Leiria.

Collippo trucidada e destruída
Em torno da cidade havia pequenas quintas e casais com um ou dois hectares, pequenos sítios pobres e explorações unifamiliares, mas nos vales dos rios Lena e Lis, existiam ricas villae, de Porto de Mós à Batalha (Arneiro, Martimgil, São Romão), com ricas casas e grandes explorações agrícolas.

À volta havia frondosas e húmidas florestas de carvalho, medronho, azinheira, vidoeiro e outras espécies autóctones, onde existiam ursos, javalis, veados e outras espécies que eram caçadas pelos habitantes locais.

"Nas quintas, as culturas assentavam na trilogia romana: vinho, azeite e pão”, conta o investigador. Em 1999, foram feitas sondagens arqueológicas, no local onde estaria situado o coração da cidade que levaram á conclusão do que se suspeitava há muito.

“Foi tudo trucidado e destruído com máquinas de rastos, nos anos de 50 e 60. O local até foi usado como campo de tiro pelo Regimento de Artilharia 4, de Leiria, e como areeiro”, explica o investigador da Universidade do Algarve, adiantando que os proprietários tinha receio que o Estado lhes ficasse com as terras, sabendo que havia ali uma cidade romana importante.

João Pedro Bernardes acredita que ainda haverá áreas onde poderá hav

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