Sociedade
“Central Park de Leiria” poderá ser a Mata dos Marrazes
Pulmão | Zona encontra-se degradada, mas a Junta já tem um plano e uma visão para a tornar num local nobre da cidade. Falta o dinheiro. O próximo quadro comunitário poderá ser a solução
“A Mata dos Marrazes é a única grande zona verde de Leiria, uma capital de distrito que não tem um extenso parque verde. Outras cidade mais pequenas contam com esse tipo de espaços verdes e ela poderia ser o nosso Central Park”, afirma Paulo Clemente,presidente da União de Freguesias dos Marrazes e Barosa (Leiria).
O autarca acredita que a população da freguesia dos Marrazes vai continuara crescer e que este espaço será um local privilegiado de uma ampliada zona urbana de Leiria, tornando-se o seu principal espaço verde, onde nem sequer faltará um grande espelho de água.“Passada a pandemia, verificaremos que não é possível organizar grandes eventos ou piqueniques em pequenos jardins como os jardins de Camões ou da Almuinha.”
Actualmente, a mata está degradada,sofre com a proximidade da Carreira de Tiro que a polui com milhões de bagos de chumbo e poluição sonora,foi alvo de um abate sanitário de pinheiros infectados com nemátodo, está infestada com árvores exóticas,serve como zona de despejo ilegal de lixo e há muitos equipamentos degradados.
Há um plano para reabilitar e plantar árvores na mata, sendo que a criação e melhoramento desta zona verde terá de ser realizado por fases e talvez com fundos do próximo quadro comunitário.
No início de 2020, foi começada uma replantação de novas árvores autóctones, porém, com a imposição do confinamento, na sequência da proliferação de infecções pelo coronavírus SARS-CoV-2, os trabalhos tiveram de ser suspensos.“Já foi feito um levantamento geográfico da área, pois a prioridade é saber o que se pode fazer. Queremos a implantação de um lago e outras características que sejam possíveis”, refere Paulo Clemente.
No caso da flora, pretende-se recorrer, acima de tudo, às espécies que fazem parte da floresta portuguesa,como as árvores da família quercus –carvalhos, sobreiros, castanheiros, azinheiras ou azevinho – e medronheiros, entre outras. A União de Freguesias tem já assegurado um apoio mecenático para a plantação de seis mil árvores, uma operação que foi adiada sine die, por precaução contra a Covid-19.
Quanto à fauna existente, sabe-se que há várias espécies de repteis, aves, coelhos e esquilos vermelhos.
“Pulmão de Leiria”
Paulo Clemente refere que o “pulmão de Leiria” precisa de reabilitar vários equipamentos; bancos, caixotes para o lixo, sinalização, equipamentos para manutenção, entre outros - , que, por incúria, acção da passagem do tempo ou vandalismo se encontram destruídos.
Para a concretização de tal projecto, está em andamento a preparação de uma candidatura a fundos comunitários. Para já, o autarca diz que não há apoios monetários da Câmara de Leiria para a mata, mas ressalva que isso não quer dizer que eles não a pareçam após negociação.
“Pretendemos ainda fechar vários acessos rodoviários à mata, para impedir descargas de lixo, constituído por pneus, electrodomésticos e até entulho das obras. A Mata dos Marrazes é uma zona segura, desde que a vegetação e as espécies invasoras estejam cortadas, reduzindo os obstáculos à visão e que poderiam trazer algum perigo aos frequentadores. Mas, actualmente,já não há, no local, prostituição nem droga”, sublinha.
Entretanto, o público está convidado a participar em mais uma etapa da criação do “Central Park”. Para os dias 10 e 18 de Outubro, estão programadas acções no espaço para o esforço de erradicação de espécies invasoras. Os trabalhos vão acontecer através de uma parceria com a plataforma invasoras.pt.
Intervenção artística motiva troca de palavras
Recentemente, o artista plástico Ricardo Romero/Matilha Studio criou a peça Play Time, no antigo halfpipe da Mata dos Marrazes. A rampa de skate, escreveu Romero na sua rede social, “não tem sinalização,não tem normas de utilização afixadas e nem mesmo um simples caixote do lixo por perto. Quando terminámos o trabalho fomos interpelados por uma senhora do Executivo da União de Freguesias de Marrazes e Barosa, que nos questionou se tínhamos pedido autorização à Câmara ou à Junta, e que deveríamos endereçar um pedido de desculpas à União de Freguesia de Marrazes e Barosa pela utilização do espaço, sem pedido de autorização.”
No Instagram, o artista emitiu as desculpas e admitiu que não fez o pedido de utilização, mas fez notar que o equipamento está abandonado.“Não tem mal o que foi feito, mas poderiam ter perguntado. Não tenho conflitos com a Matilha e estamos apenas contra a forma como foi feito. Poderiam ter pedido autorização”,sublinha o presidente da Junta.
A obra Play Time consiste numa intervenção efémera em espaço público que reflecte o panorama social e político actual da Mata dos Marrazes. O halfpipe, normalmente usado pelos skaters,é desvinculado da sua função original ao ser ironicamente alterado para um campo de golfe.” Romero explica que quis convidar a uma“reflexão sobre a zona desflorestada da mata que envolve este espaço; numa atitude contemplativa com uma visão sobre o futuro de uma paisagem devastada”.
A Junta dos Marrazes pretende que o espaço, pintado de verde, seja revertido ao estado pré-intervenção artística.