Sociedade
Bombeiros levam na mala ajuda e boa disposição aos idosos
Projecto "Sempre Consigo" já identificou 70 pessoas.
Saem do quartel na ambulância, mas desta vez não se trata de uma emergência. Três elementos dos Bombeiros Municipais de Leiria afectos ao projecto Sempre Consigo dirigirem-se a casa de Emília Silva, uma minhota de 80 anos.
Solteira, sem filhos nem familiares próximos, esta idosa vive no centro de Leiria sozinha há vários anos. Apoiada numa canadiana, os seus olhos brilham assim que abre a porta e tem companhia. “Meus ricos filhos, entrem. Venham meus amores”, diz a Paulo Oliveira, Leonardo Pereira e Neves Silva.
A conversa rapidamente se desenrola. Nota-se uma enorme vontade de conversar, típico de quem passa a maioria do tempo sozinha. Queixa-se das pernas e da falta de dinheiro. Mas brinca com todos e mostra uma boa disposição de fazer inveja a muita gente.
Os bombeiros preocupam-se com a sua saúde, com os medicamentos que toma e medem a tensão arterial. “Está boa”, constatam, verificando que o mesmo se passa com o índice de glicémia.
Emília Silva é de Ponte de Lima, Viana do Castelo. Viveu vários anos em Lisboa até vir para Leiria. Nunca casou. “Ninguém me quis, porque tenho muito mau feitio”, brinca, exibindo, contudo, com orgulho fotos com cerca de 30 anos, onde era uma “mulher de fazer parar o trânsito.”
Foi encarregada nas Modas Versailles, em Lisboa, onde conheceu “grandes figuras”, como Varela Silva e Fialho Gouveia. “O Sá Carneiro morreu sem ir buscar um fato que tinha encomendado.” “Já passei por muito, inclusive fome”, recorda também com as lágrimas nos olhos.
A grande ajuda vem da Câmara de Leiria, a quem tece rasgados elogios, através dos programas de comparticipação de medicamentos e da renda da casa e da teleassistência. A visita dos bombeiros é mais um apoio bem-vindo.
“Sei que quando batem à porta é gente boa e séria. É muito bom tê-los aqui. Não me dêem nada, mas mostrem- -me boa cara”, afirma.
Difícil mesmo é ir embora e pôr fim à conversa. Mas a promessa de voltar está garantida.
Matilde Ferreira, 74 anos, é vizinha dos bombeiros. Abre a porta hesitante, mas baixa a guarda quando vê a assistente social da autarquia. “Ainda bem que veio, porque vemos tanta coisa por aí...”, afirma, referindo-se a burlões que se fazem passar por outras pessoas.
Apesar de fardados, os bombeiros estão agora a conhecer os idosos a quem vão prestar apoio. Hipertensa medicada, os elementos 'preocupam-se' com os valores que a máquina mostra. “Tem a certeza que já tomou o comprimido hoje?” Verificam uma, duas, três vezes. Até mudam de aparelho. Finalmente, os valores baixam ligeiramente. “Estava um bocadinho ansiosa porque sabia que vinha cá um jornalista”, confessa.
Menos conversadora, vai-se desinibindo aos poucos. A família vive na Caranguejeira, de onde é natural, mas são poucas as visitas. Solteira e sem filhos mostra gratidão aos amigos e ao “seu” Zé, um antigo hóspede, que trata como sobrinho.
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