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A viagem de Marciano desde a plateia até ao palco do Extramuralhas

22 ago 2024 19:30

Um dos voluntários mais antigos do festival protagoniza esta sexta-feira aquele que é o terceiro concerto de projectos de Leiria em 13 edições

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Amanhã, pelas 17 horas, no Jardim Luís de Camões, com acesso livre, antes da actuação de Dancing Plague
Ricardo Graça

Nunca falhou um Extramuralhas – nem, anteriormente, os vários Entremuralhas no castelo. Assiste aos concertos desde o primeiro dia e é voluntário desde a segunda edição do festival, com a responsabilidade de conduzir os músicos estrangeiros nas viagens entre o aeroporto e o hotel.

Esta sexta-feira, Marciano sobe da plateia (e dos bastidores) para a frente do palco.

É apenas o terceiro nome de Leiria, em 13 edições, depois de Brainderstörm e Eden Synthetic Corps em 2011. E o presidente da Fade In explica porquê: “É um artista singular que desbrava, tal como nós, um território singular, sem medo de ser diferente porque o é naturalmente”, diz Carlos Matos. “Conhecemos o seu trajecto desde tempos imemoriais e a sua inclusão deve-se ao facto de a sua música, forma de compor, e estética, terem atingido uma qualidade e uma maturidade que faz com que tenhamos vontade de o mostrar ao mundo. A excelência dos músicos que o vão acompanhar vai conferir ainda mais impacto à sua apresentação ao vivo”.

O concerto marcado para amanhã, às 17 horas, no Jardim Luís de Camões, é, segundo Marciano, “uma mistura de responsabilidade e orgulho e satisfação”. Ou, como escreveu nas redes sociais, “um desejo” de “há muitos anos” que “agora se concretiza”.

Recebeu a notícia em Outubro, durante outro evento da Fade In, o Monitor. “Fiquei completamente surpreso e muito contente, apesar de saber que o Carlos tem gostado cada vez mais das coisas que tenho feito”.

A estreia no Extramuralhas conta, pela primeira vez, com a participação ao vivo do guitarrista David Wolf (She Pleasures Herself) que se junta ao baterista Nuno Francisco (também dos lisboetas She Pleasures Herself) e ao baixista Rui Geada (anteriormente em Iamtheshadow, outra banda de Lisboa). Marciano é o único dos quatro que nunca actuou no Extramuralhas, mas acredita que a “sonoridade escurecida” a que dá voz, entre o fado e a electrónica, “faz sentido” no festival, conhecido por absorver estéticas habitualmente menos comerciais. “Como alguém já me chamou, pareço um Variações gótico”.

No alinhamento estão previstos pelo menos dois temas do próximo álbum, a sair em Setembro ou Outubro: os singles “Bissectriz” e “Missão Amar-te” e ainda “Sem Remédio”, que se inspira no poema de Florbela Espanca.

A jogar em casa, o músico de Leiria espera surpreender o público eventualmente menos atento. “Muita gente ainda não percebeu muito bem o que é que aconteceu no último ano, porque não tenho tocado por aqui, tenho tocado mais em Lisboa e Margem Sul”, explica. “Gente que, se calhar, está desfasada da evolução do projecto, até porque pensa que ainda estou a tocar sozinho”.

Em mais de uma década de Entremuralhas e Extramuralhas, Marciano coloca na lista de inesquecíveis os concertos de Ashram no Mosteiro da Batalha e de Laibach no Caste de Leiria, entre muitos outros, como Die Krupps, Front Line Assembly ou Young Gods.

Enquanto “condutor de serviço”, no apoio à organização, já soma dezenas de viagens e milhares de quilómetros. Por um lado, “um privilégio”, por outro, a proximidade com os artistas nem sempre é a experiência que se imagina. Alguns “não vêm bem-dispostos” e “certos managers são intratáveis”. Na prática, “perde-se a magia”. Outras vezes, a viagem dá para discutir política internacional e o impacto da adesão à União Europeia (como com os turcos She Past Away) ou para iniciar uma ligação que perdura nos anos seguintes (com os Roma Amor, por exemplo).

Até prova em contrário, os italianos ganham o prémio simpatia. Os alemães fi­cam com a pior fama.