Opinião
Todos vêem mas ninguém sabe
O que acontece quando determinado profissional não tem competência/condições/vontade para exercer a sua profissão, para cumprir com o que é esperado da sua função?
Acontestação de muitos alunos e encarregados de educação a dois professores da Escola Domingos Sequeira, situação que se vai repetindo de ano para ano, levanta uma questão pertinente de que raramente se tem a coragem de falar: o que acontece quando determinado profissional não tem competência/condições/vontade para exercer a sua profissão, para cumprir com o que é esperado da sua função?
No sector privado, as empresas têm alguma flexibilidade para encontrar soluções mais ajustadas ao perfil das pessoas noutras funções. Quando a mudança não resulta, e apesar de ser quase impossível despedir alguém por justa causa, a verdade é que as empresas, de uma ou de outra forma, acabam por “negociar” a saída do colaborador.
Já no sector público, o problema parece ser mais complexo, pois a força dos sindicatos, o corporativismo profissional e a própria lei, não deixam margem para qualquer solução, permitindo que os problemas se arrastem ao longo dos anos como se não existissem, com os colegas e os superiores hierárquicos, geralmente, a assobiarem para o lado e a fingir que nada vêem, mesmo que na surdina as criticas sejam ferozes.
As consequências de uma mau desempenho profissional poderão ser menos ou mais graves dependendo da profissão em causa, sendo óbvios os riscos quando se fala, por exemplo, de um cirurgião ou de um anestesista, de um piloto de aviões ou de um controlador aéreo, de um engenheiro ou de um agente de autoridade acompanhado da sua arma.
No entanto, para lá do risco mais elevado, que pode colocar vidas em causa, há muitas outras situações em que a incompetência e a negligência podem originar danos graves para a vida das pessoas, bastando pensar numa decisão mal tomada por um juiz ou num deficiente acompanhamento dos alunos por parte de um professor, que, ao que parece, é o que está em causa na Escola Domingos Sequeira.
Acusam os pais, os de agora como outros no passado, que o desempenho dos professores apontados estará a condicionar a aprendizagem dos alunos e a penalizar as suas classificações, o que lhes trará dificuldades nos anos seguintes e os colocará em desvantagem num futuro acesso ao ensino superior.
A ser verdade, não pode deixar de ser questionável como é possível que o sistema permita que se mantenham em funções professores que, ao invés de acrescentarem algo aos alunos que recebem, os colocam em dificuldades no presente e lhes hipotecam o futuro.
Com certeza que haveria outras funções na escola, ou noutro local da administração pública, mais adequadas ao perfil e competências desses professores, caso o problema esteja ao nível da capacidade de interacção com os alunos e transmissão de conhecimentos.
Pois se o problema estiver ao nível da atitude e da (falta de) vontade para fazer bem, não deveria haver qualquer condescendência em, simplesmente, dar os lugares a quem quer trabalhar e não tem onde.
*Director do Jornal de Leiria