Editorial

Que País é este?

14 fev 2020 11:39

Facilmente conseguimos imaginar a vida de dificuldades que espera esta família.

Não há palavras para descrever a injustiça de que está a ser alvo Rui Rosinha, um bombeiro voluntário que, com mais quatro colegas, formou um circulo para proteger uma família das chamas, no fatídico 17 de Junho de 2017.

Um dos bombeiros acabou por falecer e Rui Rosinha ficou com ferimentos graves, que já o obrigaram a 14 cirurgias e o colocaram com uma incapacidade de 85%.

Um acto heróico que lhe destruiu a vida e transformou radicalmente a da sua família que, com a lei dos cuidadores por aprovar, se vê em dificuldades para dar o apoio que tão grande incapacidade exige.

Pensarão os mais ingénuos que tal acto de nobreza e coragem, que permitiu salvar uma família de quatro adultos e uma criança, seria reconhecido com os mais altos louvores da nação e que o seu infortúnio teria como compensação a garantia de uma vida digna e o mais confortável possível.

No entanto, a realidade é outra e, como é habitual acontecer aos idealistas, a desilusão é grande, para não dizer chocante.

O melhor que o nosso País tem para agradecer o acto heróico de Rui Rosinha é uma reforma de 395 euros, cerca de metade do que levava para casa enquanto fiscal da Câmara, que é somado ao vencimento de auxiliar de acção educativa da sua esposa, que não andará muito longe do ordenado mínimo.

Facilmente conseguimos imaginar a vida de dificuldades que espera esta família. Vale a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) que, através do Fundo Social de Protecção dos Bombeiros, começou este mês a apoiar o bombeiro com uma verba de cerca de 280 euros mensais, substituindo-se, assim, ao Estado.

Este mecanismo da LPB permitirá a Rui Rosado e à sua família ter uma vida mais remediada, mas, mesmo assim, muito distante do que uma pessoa que fez o que fez, com as consequências dramáticas que teve, mereceria.

Pode argumentar-se que é o que dita a Lei, mas, se assim for, a dita Lei tem de ser revista urgentemente, pois não é certamente desta forma que os portugueses querem ver ‘premiados’ os seus verdadeiros heróis, aqueles que são capazes de dar a vida pelos outros.

O nosso País não pode ser assim.

Não é este o Portugal que queremos!