Opinião
Que faremos com esta paz?
Fiquei inquieto com o que vi os meus colegas músicos em Portugal dizerem e fazerem sobre a Palestina
Não foi, nem será, fácil esta paz entre Israel e Palestina. A radicalização afasta resoluções. Mas, quem vive a guerra todos os dias daria tudo — até um pedaço do seu coração, da sua terra — para que os filhos deixem de morrer.
Fiquei inquieto com o que vi os meus colegas músicos em Portugal dizerem e fazerem sobre a Palestina. Tomaram partido sem olhar a factos.
Apequenaram quem falava em paz ou ousava mencionar os massacrados de 7 de Outubro — num festival de música onde qualquer um de nós podia estar. Vi-os nas redes da flotilha, nos palcos de gala e na televisão com vestidos feitos de keffiyeh, a brilharem sob os holofotes, esquecidos do Bataclan, da arena de Manchester, de Ansbach, de Moscovo.
Li crónicas a chamar “pequenos de espírito” aos que não assinavam certas petições. Vi acusações de cumplicidade com o IDF a quem não marchava nas manifs. Não vi, uma só vez, luto pelo 7/10. Nem (ainda) um post pela paz que hoje se conseguiu (9/10). Ao contrário da maioria deles, eu já estive em Israel.
E o que vi em Telavive surpreendeu-me porque, mesmo em conflito aberto, vi harmonia, mais evidente que não nas ruas, nos cafés, nas vidas.
Ao contrário deles, estive em comunicação com o meu amigo Kobi, israelita cristão, vocalista de uma banda metal (Orphaned Land) que tem uma história de conciliação inédita e bonita com o mundo árabe (que eles não conhecem), e ele contava-me como ia para o abrigo com as filhas duas vezes por dia, enquanto explodiam rockets de TNT.
Paz não é faccionar . É aproximar. Tal como a música
Que farão eles, que dirão eles, elas, agora desta paz?
Estaremos atentos.