Opinião

Música e Paz

14 set 2025 10:37

Muita da música Pop da actualidade perdeu a sua vocação “setentista” de construir pontes entre nações desavindas

Fico surpreendido que no meu percurso como cronista neste semanário, poucas tenham sido as vezes em que escrevi sobre música. Bem sei que existem por aqui outras colaborações que o fazem, mas o meu afastamento de assuntos musicais neste espaço dá-me, por vezes, que pensar.

Observo que muita da música Pop da actualidade perdeu a sua vocação “setentista” de construir pontes entre nações desavindas. A sua vocação pela paz a todo o custo. Hoje o caminho é outro: o do absoluto protesto/ódio, nos concertos de Bob Vylan (Death to the IDF); ou Kneecap (Fuck Israel).

Estes e muitos outros músicos justificam a sua escolha pela legitimidade da luta do movimento Hamas na independência da Palestina. Ou seja, consideram o 7 de Outubro, ataque ao festival de música eletrónica Nova em Re’im, um lícito acto de guerra contra uma nação ocupante. Quem ousar pensar o contrário, será considerado cúmplice do genocídio do povo palestiniano, ponto final.

Longe vão os tempos de Imagine (Lennon), de The Partisan de Cohen ou até da ingénua Russians de Sting, temas em que os músicos se declaravam pela paz, procurando a “humanidade” do inimigo. Isso acabou.

Os Radiohead acabam de anunciar a sua tour: 20 concertos na Europa, com uma componente solidária para a Live Trust e para a Médecins Sans Frontières, mas foi, de facto, do apelo violento ao seu cancelamento por parte da BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) - que se dedica apenas e só a este tipo de actividades - de que se falou.

O argumento apontado é o lançamento do disco do guitarrista Johnny Greenwood com o músico Israelita Dudu Tasso: Jarak Qaribak (O teu vizinho é teu amigo) em 2023. Conta, por exemplo, com a participação da cantora Palestiniana Nour Freteikh em Taq ou-Dub, cuja tour na Europa foi também alvo do cancelamento por acção da BDS. Era um disco simbólico. Mas não passou.

A pergunta que vos deixo: a música, hoje em dia, quer a paz?

Para mim é óbvio que não, falhando assim uma das maiores vocações e razões de existir.