Opinião
Proibir só porque nos dá jeito, não!
Continuo a considerar as novas tecnologias de informação e comunicação como um poderoso recurso do ensino e da aprendizagem
Sou contra o uso de ecrãs nas aulas? Não! Sou contra o uso de telemóveis nas aulas e nos recreios? Sou, mas… Uma escola e mais tarde uma sociedade onde fosse “proibido proibir” por tal se vir a mostrar uma inutilidade atendendo à boa formação das crianças e jovens escolarizados sempre foi o sonho que comandou a minha vida de educadora.
Por isso, a consciência de que estava a preparar os meus alunos para o seu futuro, natural e fatalmente, muito diferente do meu, criou-me a necessidade de me alfabetizar digitalmente. Aliás, senti-me já uma sortuda quando, por volta dos anos noventa, para “ensinar” os movimentos das placas tectónicas, pude substituir, nas aulas, os meus artefactos artesanais, feitos em cartolina e as respetivas e demoradas explicações, por vídeos que adquiri (apesar de quase me levarem à ruína) para que todos “víssemos” rapidamente tais movimentos e houvesse tempo para que, a seguir, aprendêssemos mais sobre o assunto.
E foi assim que, ano após ano, através dos ecrãs, fossem de quadros interativos ou de computadores os temas propostos para aprendizagem foram, muitas vezes, chegando às minhas aulas como “objetos” motivadores e auxiliares de trabalho e nos deixaram tempo para que a seguir, com recurso aos livros, às notas tomadas e às discussões, todos nos sentíssemos a aprender melhor e conseguíssemos analisar criticamente as coisas da vida e do mundo, necessárias e essenciais na formação de qualquer cidadão, naquele presente ou no futuro.
E sim, talvez fosse por tudo isto, pelo tempo que ganhava para tornar possíveis as discussões e reflexões provocadas pelas matérias em estudo, crente como ainda hoje me sinto de que tais práticas levam a uma aprendizagem mais profunda (não só aumentam o interesse, a motivação e a capacidade de resolver problemas, como também promovem o desenvolvimento pessoal) que continuo a considerar as novas tecnologias de informação e comunicação como um poderoso recurso do ensino e da aprendizagem.
Já com a utilização dos telemóveis em contexto escolar, como nunca os vi a serem utilizados nas minhas aulas, infelizmente não fui visionária o suficiente para antever as preocupantes consequências do seu uso por parte de crianças e jovens completamente deseducados para tal. Considero, por isso, ser urgente a proibição de telemóveis agora decretada, mas com uma condição: todas as escolas passarem a ter planificado um módulo de “Educação para o uso responsável dos telemóveis” que implique uma concretização obrigatória com a participação dos pais e das mães dos alunos.
De facto, o assunto é sério demais para nos ficarmos só pelo jeito que nos dá esta proibição!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990