Opinião
Problemas globais, soluções multilaterais
Não se sabe, ainda, a total dimensão do rombo, mas todos percebemos já que vão ser tempos difíceis.
A terceira década do século XXI adivinha-se turbulenta. Todos os tempos têm as suas inquietações, problemas e sobressaltos, mas a década que vivemos parece vir a ser especialmente difícil pela conjugação de fatores que o mundo enfrenta.
Algumas condições são estruturais e conhecidas, outras explodiram num timing que não era possível antecipar.
Todas se conjugam agora para ajudar a moldar a sociedade em que vamos viver nos próximos anos.
Dos últimos anos vinham já as preocupações com as questões climáticas.
Apesar de já se sentirem os seus efeitos, a tendência será haver uma degradação das condições e eventos climáticos mais extremos, com consequências para populações em todo o mundo.
Também as tensões provocadas pela insatisfação dos “derrotados da globalização” eram evidentes: desespero, exasperação e os consequentes populistas de pacotilha a explorar o discurso divisivo.
A este caldo conhecido, juntou-se uma crise económica global (resultante da pandemia), provavelmente a maior de sempre.
Não se sabe, ainda, a total dimensão do rombo, mas todos percebemos já que vão ser tempos difíceis.
O último grande fator transformador parece ser a questão do racismo, com a agitação social que lhe está associada, e que parece (finalmente!) ter entrado nas preocupações da sociedade (e dos media) por todo o mundo.
Todas estas difíceis questões exigem resposta coordenada, colaboração e multilateralismo.
Dada a magnitude, nenhum cidadão, nenhum líder político, nenhum país conseguirá por si só resolver a questão. Vou escusar-me a apresentar potenciais soluções para os problemas, mas aponto dois fóruns acertados para promover esta colaboração: a ONU e a UE. E, contudo, parecem ser dois locais em que todos os avanços fracassam.
A ONU, apesar dos esforços de Guterres, permanece impotente e inoperante, vítima da Guerra Fria do século XXI.
A continuar assim, arrisca-se a tornar-se tão irrelevante como ficou a Sociedade das Nações.
Já a UE, prefere aprofundar a cunha cravada entre países, explorando o confronto maniqueísta “nós contra eles”.
Em vez de avaliar a real dimensão dos problemas, e procurar soluções em conjunto, prevalece o interesse de cada nação e até, frequentemente, o interesse imediato de cada partido que governa cada país.
A preocupação com o curto-prazo da reeleição e com imediatismo do próximo tweet está lentamente a matar o projeto europeu, tornando-o não só inútil como odiado.
Estes problemas que vivemos implicam profundas transformações na sociedade.
E, considerando a gravidade dos problemas, as alterações acontecerão.
Parafraseando John Kennedy, aqueles que tornam a evolução pacífica impossível, tornam a revolução violenta inevitável.
Resta-nos sermos cidadãos exigentes e participativos, para que a evolução se faça de um modo que sirva toda a sociedade.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990