Opinião

Problema de expressão

4 dez 2025 16:17

Pouco ou nada se discute o facto, recentemente validado em relatórios europeus, que Portugal tem mais do dobro de episódios de urgências que os demais países da Europa

Canção extraordinária de uma banda maravilhosa, que temos a sorte, e orgulho, diria, de ter neste nosso cantinho. Na minha opinião, claro. Haverá quem não goste, haverá quem ache mesmo mau, não sei. Sei que vivo num país livre, onde todos temos direito à opinião, seja ela qual for. E sobretudo, e mais importante, temos todos o direito, e a liberdade, de a expressar. Contudo, e como tudo, essa liberdade é ainda assim diferente entre nós.

Algumas pessoas são mais livres, isto é, têm mais e melhores ferramentas para exercer esta liberdade de expressão. E surge assim um problema de expressão. Porque alguns podem expressar ostensiva e repetidamente a sua opinião, e outros não se conseguem fazer ouvir. Assistimos no último mês a vários exemplos. O primeiro, em debates e cartazes, ofensivos para tantos, eu incluída.

E sobre isso, e aproveitando este pequeno canal que tenho para me expressar, uso-o para publicamente pedir desculpa aos imigrantes, que tanto têm ajudado a manter a economia do nosso país, pelas barbaridades que têm que ler em grandes cartazes pelo país fora. Fruto da liberdade, e bem, de alguém em se expressar.

Mas importa não esquecer que a liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro. E sobre isso, dou por mim a pensar o quão mais fácil é arranjar terceiros para as nossas culpas. Faz parte do género humano. Sempre fomos assim, e sempre seremos. Desde pequeninos, em que quando tropeçávamos numa cadeira e caiamos, alguém nos dizia “a cadeira é má”. Não, não é. Foi só um tropeção, nada mais. Mas aprendemos desde cedo esta externalização dos nossos problemas.

Ao invés de olharmos para o que podemos fazer para os resolver, é mais fácil, mais inato, encontrar terceiros a quem apontar o dedo. É disto que se trata. O segundo exemplo são os tarefeiros, palavra igualmente depreciativa, para falar do grave problema das urgências do nosso país. A culpa está longe de ser dos médicos que lá prestam serviços ao invés de lá serem contratados.

Pouco ou nada se discute o facto, recentemente validado em relatórios europeus, que Portugal tem mais do dobro de episódios de urgências que os demais países da Europa. Esse é o problema, e é sobre isso que têm que se estruturar soluções. Não apontar o dedo aos médicos que respondem a todos estes excessivos episódios de urgência.

Num período de diversos debates políticos, lamento que sejam poucos os que se dedicam a debater o que é estruturante para o nosso país. Cabe-nos a nós fazê-lo à nossa volta. Livremente.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990