Opinião
Outra forma de fazer
O principal objectivo não passa pelos números (de público ou de dinheiro), mas sim por transmitir com honestidade a história, e as pequenas estórias, do Mosteiro, bem como o passado de Portugal que lhe está intrinsecamente ligado.
O trabalho de Joaquim Ruivo como director do Mosteiro de Stª. Maria da Vitória (ou da Batalha) merece ser analisado com atenção, principalmente pela vida que tem dado àquele monumento, através de um tipo de programação que é pouco habitual ver-se no património histórico poprtuguês.
A liderar a equipa do Mosteiro há cerca de três anos, Joaquim Ruivo rompeu com uma lógica conservadora que impera na gestão da maioria do nosso património, que para muitos é uma espécie de vaca sagrada, e imprimiu naquele espaço angular da nossa identidade uma dinâmica que tem aproximado o monumento da população e, tão ou mais importante, tem valorizado o seu passado e dado a conhecer a sua história.
O interessante, é perceber que o que tem sido feito tem respeitado a importância histórica e a identidade do monumento, numa programação cuidada, criteriosa e bem pensada, sem a tentação de recorrer à “cultura em pacote” tão em voga na maioria das nossas autarquias.
Ali, tudo o que tem sido apresentado tem uma lógica e é bem contextualizado no que representa aquele monumento na nossa história e no nosso imaginário. O principal objectivo não passa pelos números (de público ou de dinheiro), mas sim por transmitir com honestidade a história, e as pequenas estórias, do Mosteiro, bem como o passado de Portugal que lhe está intrinsecamente ligado.
E a verdade é que, sem se ter tornado repentinamente num destino de massas, são muitos os que voltaram a visitar o Mosteiro da Batalha, ou o fizeram pela primeira vez, motivados pela programação agora ali existente. Uma programação, diga-se, assegurada quase em exclusivo por artistas locais, acabando a estratégia de Ruivo por ser também promotora e financiadora da criação artística nesta região.
Hoje, pode-se dizer, o Mosteiro da Batalha é um monumento vivo e a lógica da sua programação é um exemplo a seguir, nomeadamente por autarquias que investiram no caminho mais fácil de promover iniciativas sem identidade, que lhes aparecem oferecidas por um qualquer promotor que lhes propõe exactamente o mesmo que a todas as outras, sejam no Norte ou no Sul, na praia ou na montanha, nas cidades ou nas aldeias.
O importante é que atraia muito público e que apareça na comunicação social. É o imediatismo que, apesar de efémero, se sobrepõe à lógica de futuro, de consolidação de públicos, do deixar algo sobre o qual se possa continuar a evoluir. É o fazer-se agora para se conseguir visibilidade e votos sem pensar no que há-de vir.
Uma lógica onde não têm lugar projectos como as Leitura Encenadas, a decorrer no Mosteiro (ver pag. 34/35 desta edição), ou outros que a equipa de Ruivo promoveu no passado, dos quais se destacam o livro Contos Imperfeitos, já traduzido em italiano, e as Visitas Encenadas. Um caminho que irá encurtando à medida que a população for ganhando espírito crítico e exigência.