Opinião
Oportunidades...
A compra do Edifício do Paço é uma oportunidade que, ao que tudo indica, a Câmara não vai desperdiçar. Resta saber se não a vai perder através do uso que lhe dará.
Num curto espaço de tempo, a Câmara de Leiria anunciou uma mão-cheia de novidades que aparecem a contrastar com os cerca de sete anos calmosos, em termos de obras e de investimentos, que têm caracterizado a gestão de Raul Castro.
Após ser conhecido o acordo com Ricardo Charters d'Azevedo para a instalação de um centro cultural na Villa Portella e de ter sido público que as obras do Jardim da Almoinha Grande vão, finalmente, avançar, Raul Castro contemplou o tão esperado pavilhão multiusos no orçamento para 2017, anunciou a compra do Edifício O Paço e apresentou uma solução para o topo Norte do estádio, num negócio de permuta de património com o Estado Central que, aparentemente, é muito interessante para Leiria.
Se algumas destas decisões não surpreendem, pois já estavam prometidas há tanto tempo que o tema já estava gasto, duas delas apanharam a cidade de surpresa. Primeiro, a boa notícia de que a bela Villa Portela vai abrir os seus portões à cidade e às artes, e agora a compra do edifício onde funcionou a Zara durante vários anos.
E, diga-se, em boa hora a decisão foi tomada, pois face à dimensão e à centralidade que apresenta, é de todo o interesse para a cidade controlar o que será aquele edifício no futuro. Ao que parece, haveria um investidor chinês interessado no espaço e, sem qualquer ponta de xenofobia, a verdade é que aquela zona nobre da cidade precisa de tudo menos de mais um bazar de produtos asiáticos.
Poder-se-á dizer, no entanto, que também não será uma Loja do Cidadão a melhor solução para aquele espaço, atendendo às potencialidades do edifício, que integra inclusive dois auditórios, que se poderiam cruzar com a ambição de Leiria em ser Capital Europeia da Cultura.
Numa visão semi-utópica, consegue-se imaginar no que se poderia transformar toda aquela zona se em vez de uma Loja do Cidadão ali fosse criada uma incubadora de artes, nas suas diversas expressões, com salas para exposições, espaços para ensaios e residências artísticas, auditórios para espectáculos e até, porque não, um estúdio para gravações. Não esquecendo uma cafetaria/bar, que ajuda sempre a dar dinâmica a este tipo de espaços, e um gestor que perceba realmente do assunto a dirigir o projecto.
Apesar dos investimentos em equipamentos culturais efectuados nos últimos anos, uns mais bem conseguidos que outros, continua a faltar em Leiria um espaço que promova a criação artística e a interacção entre artistas das diferentes artes. Algo mais arrojado e com um olho no futuro, que possa contribuir para colocar Leiria no mapa em termos artísticos e também no turismo, sabendo-se, como se sabe, que a cultura é cada vez mais decisiva na escolha dos destinos de quem viaja.
A compra do Edifício do Paço é uma oportunidade que, ao que tudo indica, a Câmara não vai desperdiçar. Resta saber se não a vai perder através do uso que lhe dará.