Opinião
O que fazer?
Nessa intensa e eterna procura descobri a necessidade de subordinar o ensinar ao aprender: os alunos não são recipientes vazios onde os professores possam depositar os conteúdos dos programas
Ao ler o texto O verbo perguntar de Tolentino de Mendonça recordei uma pergunta que coloquei a mim mesma quando comecei a ser professora e que foi responsável por me ter deixado seduzir completamente por essa profissão. Questionava-me como educar e o que ensinar às crianças que lhes servisse realmente no futuro, sendo esse futuro o delas e não o meu, sendo esse futuro desconhecido de todos e dele apenas se poder falar recorrendo a previsões?
Rapidamente me percebi sem capacidade para responder à pergunta que formulei, mas foi essa incapacidade para encontrar uma resposta definitiva que, articulada com o meu horror ao vazio, me conduziu a um estado de permanente procura do “como?”. Nessa intensa e eterna procura descobri a necessidade de subordinar o ensinar ao aprender: os alunos não são recipientes vazios onde os professores possam depositar os conteúdos dos programas; não se sentem a aprender quando apenas lhe é exigido que saibam evocar não os seus, mas apenas os conteúdos aprendidos e transmitidos pelo professor. Porque “aprender é construir” percebi a importância de deslocar no processo educativo a centralidade do professor para o binómio aluno-professor. Ao professor cabe a tarefa de organizar a interação de cada aluno com os conhecimentos e de criar as condições que facilitem essas interações (geradoras de aprendizagens com significado). Ao aluno cabe o papel e a responsabilidade de construir o seu próprio conhecimento, envolvendo-se intimamente com ele. Percebi claramente que ensinar o que já está pronto a consumir é o motivo gerador do insucesso dos alunos e do desencanto dos professores que ainda não abdicaram da cómoda e preguiçosa condição de transmissores!
De facto, a beleza do ensino, e atrevo-me a dizer, até a sua eficácia e eficiência, surge quando, pela iniciativa e comando do professor, este com os seus alunos iniciam, em condições de complementaridade, um processo de construção de um saber sentido pertinente por ambos.
*Professora
Texto escrito de acordo com a nova ortografia
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