Opinião

O pirilampo Dragão de Luz e a libelinha Tira-Olhos

31 jul 2025 16:16

Nascidos num charco limpo, tornaram-se amigos, improváveis, diria eu, o pirilampo Dragão de Luz e a libelinha Tira-Olhos

Se dragões, como o dos mitos, existissem, um deles seria, decerto, o Dragão de Luz, e teria, obviamente, luz, como este a tem, e a luz seria avermelhada, como a deste o é, e afugentaria predadores e animais perigosos com a sua luz cor de fogo e, seria, assim, minúsculo, como este pirilampo o é!

Se Tira-Olhos existissem, que existem, seriam assim, de asas delicadas e frágeis, de brilho dourado e voos coloridos, mas, ainda assim, cruéis ao ponto de “Tirar-Olhos” a quem viesse por mal. Se a libelinha Tira-Olhos existisse, que existe, e o pirilampo Dragão de Luz existisse, que não existe, mas que vai existir na imaginação, seriam amigos e viveriam aventuras inigualáveis, como a que viveram estes dois.

Nascidos num charco limpo, tornaram-se amigos, improváveis, diria eu, o pirilampo Dragão de Luz e a libelinha Tira-Olhos. Amigos daqueles que brincam juntos, como crianças livres. Amigos daqueles que correm uns atrás dos outros, que constroem universos e galáxias com simples galhos e pedrinhas e terra e plantas. Amigos daqueles que se juntam na rua e brincam, que caem e se auxiliam no levantar, que esfrangalham os joelhos e se ajudam a sarar, que rasgam calções e se apoiam no costurar, que rebentam as sapatilhas e aprendem a andar descalços. Amigos que sujam as mãos, que brincam no pó e deixam que a chuva os lave por fora e por dentro. Amigos que se protegem e amparam. Será que têm desses amigos assim?

Pois bem, o pirilampo Dragão de Luz e a libelinha Tira-Olhos eram desses amigos.

Um dia, quando deslizavam nas folhas húmidas e escorregadias, viram surgir um enorme pássaro de metal frio e desconhecido, que ia escurecendo o charco. Os amigos perceberam que a nuvem que aquela ave estática na forma, mas de movimento rápido, expelia, não augurava nada de bom.

Nos contos que ouviam, antes de adormecer, o monstro Homem assustava, destruía, arrasava e aquela arca voadora, controlada, certamente, pelo bicho Homem, não poderia trazer boas intenções.

Num ápice, a libelinha Tira-Olhos pousou o pirilampo Dragão de Luz na ponta da planta mais alta. O pirilampo acionou, então, a sua luz intermitente vermelha, sinal de aproximação de perigo. A libelinha Tira-Olhos, por sua vez, voou aflitivamente, de forma, altamente, preocupante.

As famílias de ambos, percebendo o perigo, depressa ocuparam os bunkers que passaram dias a construir com uns que escavavam e outros que transportavam, em pesados voos, as terras, para longe dali.

Depois da entrada do Dragão de Luz e da Tira-Olhos, aí se fecharam evitando a nuvem de pesticidas e aí permaneceram até que o mal passasse, mantendo-se com a luz de pirilampos, a ventilação do movimento de asas coloridas de libelinhas e os mantimentos que, em perfeita união, haviam armazenado.

E vocês? Será que têm amigos que iluminam, que auxiliam no respirar, que “tiram olhos” aos que querem “encicatrizar” a nossa vida para sempre? Sabem, amigos, assim, verdadeiros, como estes. Será que os têm?

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990