Opinião
O Parque Empresarial de Monte Redondo – uma ideia sem estratégia
Hoje, mais do que nunca, o desenvolvimento das economias deve ser sustentável
Leiria quer crescer, mas crescer economicamente não é o mesmo que se desenvolver.
O desenvolvimento económico pressupõe justiça, harmonia, e equilíbrio espaço-temporal.
Enquanto a métrica do crescimento económico é feita a partir da riqueza criada pelo uso dos recursos produtivos, o desenvolvimento de uma sociedade está associado ao contexto de vida das pessoas num determinado território.
E hoje, mais do que nunca, o desenvolvimento das economias deve ser sustentável, i.e., o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as necessidades do futuro.
Segundo as Nações Unidas (World Population Prospects 2019), a população planetária poderá ser de 8,5 mil milhões de pessoas em 2030 e de 9,7 mil milhões em 2050.
Este crescimento populacional será acompanhado por uma acentuada tendência de urbanização. Actualmente, cerca de 68% da população portuguesa vive em cidades e estima-se que seja 71% em 2030 (Jorge Cristino, 2021).
A urbanização do Planeta vai acentuar o papel das cidades enquanto agentes de mudança comportamental e executores de políticas públicas que visem a sustentabilidade da vida urbana.
E é nesse sentido que não se percebe a criação do Parque Empresarial de Monte Redondo (PEMR), por parte da Câmara Municipal de Leiria (CML), sem um plano estratégico associado.
O PEMR é um processo que se arrasta desde 2003.
Nessa época foi constituída uma empresa chamada GestinLeiria S.A. para gerir todo o processo de expropriação de terrenos e constituição do projecto e que foi extinta em 2017.
O PEMR terá uma área de 60 hectares com 46 lotes (cada lote terá um área de 7.240m2).
O objectivo do PEMR, assumido pela CML, é o desenvolvimento do norte do concelho, promovendo assim a coesão territorial, a fixação de mão-de-obra qualificada e atractividade de empresas.
O custo total do PEMR, entre aquisição de terrenos, expropriações, projectos, estudos e construção, será de 10 milhões de euros.
A primeira pergunta que deve ser feita é: que tipo de empresas é que vai para o PEMR havendo ainda espaço de construção na Zona Industrial da Cova das Faias (ZICOFA)? Ninguém sabe.
E porquê? Porque não há um plano estratégico.
A segunda pergunta é: o PEMR está inserido numa lógica de sustentabilidade?
De acordo com o projecto, o PEMR terá uma área de zona verde e infraestruturas de combate a incêndios.
Mas que tipo de empresas é que vai ocupar os 46 lotes? Serão empresas ligadas à transição energética (como, por exemplo, a produção de hidrogénio verde)?
Serão empresas ligadas às tecnologias da informação? Faz algum sentido haver o PEMR sem uma plataforma logística ou um sistema de transporte intermodal com ligação à ferrovia?
Quem é que tem as respostas para estas perguntas?
Ninguém! E porquê? Porque não há um plano estratégico.