Editorial
O gesto é tudo
Nos apressados dias do nosso quotidiano, há quem ainda aprecie um gesto de cavalheirismo
É comum dizer-se que o gesto é tudo. Em alguns casos, é verdade que um simples aceno basta e faz toda da diferença.
Noutros, pode revelar-se um trejeito insuficiente e superficial. Tudo depende de quem o articula, a quem o dirige, onde, quando, como e porquê. E tudo depende também da dimensão desse próprio gesto.
Nos apressados dias do nosso quotidiano, há quem ainda aprecie um gesto de cavalheirismo.
Mas também há quem desvalorize este tipo de ações, com base no princípio da igualdade de género.
Num caso ou noutro, provavelmente, ninguém ficará indiferente à indiferença, perante a falta de um cumprimento de “bom dia”, de um pedido antecedido da palavra “por favor”, ou de um genuíno “obrigado”.
Tudo gestos que cabem nas regras da boa educação, mas que, lamentavelmente, ameaçam desvanecer-se na voracidade e na competitividade dos tempos modernos.
Felizmente, continuam a existir gestos de genuína preocupação não só com cânones mínimos da simpatia, mas também com o bem-estar do próximo, mesmo em contexto de competição.
A prova está plasmada nesta edição, através de duas histórias inspiradoras, desenvolvidas nas páginas do Desporto.
Numa, o protagonista é o vice-campeão nacional de ralis. O piloto da Marinha Grande, num acto nobre de desportivismo, não hesitou em disponibilizar uma peça ao seu principal rival, permitindo-lhe a vitória na terceira prova do campeonato e o averbamento de pontos que vieram a ser fundamentais para a conquista do título.
O que à partida pode parecer estranho, sobretudo para os aficionados da modalidade, é explicado por Ernesto Cunha, com a maior das naturalidades: “Só posso medir forças com os adversários sendo o mais rápido, não é deixando-os de fora. Tudo o que não quero é ganhar só por não ter adversários à altura”.
Na outra história, a personagem central é Rafael Cardeira, também da Marinha Grande.
O jovem piloto de ralis gosta de andar prego a fundo nas classificativas para o campeonato, mas decidiu acelerar também na área da solidariedade.
Nesse sentido, criou três projectos solidários, que fazem a diferença nas localidades e instituições que vai visitando.
Além de prometer plantar o número de árvores suficientes para apagar a pegada carbónica que deixa no planeta com a participação em ralis, o piloto entrega a uma organização não governamental para o desenvolvimento um euro por cada quilómetro percorrido em competição, e faz questão de visitar as instituições de solidariedade social das terras onde vai competir.
Dois desportistas de mão cheia, dois exemplos em que o gesto é mesmo tudo.