Opinião
O futuro da floresta em Leiria
Com menos área produtiva, o silvicultor retira menos rendimento da sua propriedade
O Governo parece não ter uma visão coerente sobre o futuro da floresta portuguesa, sobretudo, quando o tema é a biodiversidade.
Apesar de em 2015 o Governo ter feito uma actualização da Estratégia Nacional para as Florestas (ENF), publicada inicialmente em 2006 e cujo grande objectivo é a gestão sustentável da floresta, muito recentemente o País foi surpreendido com uma proposta de portaria por parte do Governo que intensifica a eucaliptização dos solos.
Aqui na região de Leiria (o distrito mais o concelho de Ourém), dos 73.994 hectares de eucaliptos apurados pelo ICNF em 2015, a portaria prevê um aumento de 3.564 hectares do género Eucalyptus spp. o que representa uma acréscimo de eucaliptização de 4,8%.
Trata-se de uma portaria incoerente com DL n.º 148/2017 que refere que se deva evitar a rearborização com eucaliptos em áreas onde antes eram ocupadas por outros géneros.
Mas a inconsistência do Governo sobre a biodiversidade vai para além da eucaliptização intensiva.
O DL n.º 92/2019 de 10/7 está inserido na Estratégia Nacional para a Conservação da Natureza e Biodiversidade para 2030 (ENCNB 2030) e elenca dezenas de espécies invasoras que ameaçam a biodiversidade e os sistemas ecológicos.
O artigo 16.º do DL n.º 92/2019 é claro no que diz respeito a interdição de espécies invasoras.
As espécies invasoras têm duas características bem vincadas: são de fácil adaptabilidade aos solos e ao clima e têm uma forte capacidade de disseminação, impedindo que outras espécies (autóctones) possam vicejar no solo.
Uma das plantas invasoras é a Cortaderia selloana (foto), originária da América do Sul e trazida para Portugal pela mão do homem para fins ornamentais.
A imagem da foto demonstra a forte disseminação da Cortaderia selloana num terreno por trás do Cinema City, na margem direita do rio Lena e ao lado do futuro Parque Verde que está a ser construído.
É quase certo que o futuro Parque Verde da cidade já tenha sementes de Cortaderia selloana.
Mas a situação em Leiria tem ainda outros contornos. Segundo o Público de 9/11, cerca de 2/3 da área de eucaliptal do País está ao abandono ou sob má gestão.
A mancha florestal que abrange a Barosa/Amor e Picheleiro/Parceiros tem uma forte presença de outras duas plantas invasoras: a Acacia dealbata e a Acacia longifolia que, todos os anos, vão ocupando mais área florestal e, consequentemente, diminuindo a área de exploração económica (eucalipto e pinheiro).
Com menos área produtiva, o silvicultor retira menos rendimento da sua propriedade e, com o passar do tempo, terá a tendência de abandonar o terreno, fazendo aumentar o risco de incêndios e de pragas.