Mobilidade do século passado

Não é necessário um olhar muito perspicaz para perceber que Portugal se encontra bastante atrasado nas questões da mobilidade sustentável, quer no interior dos centros urbanos quer nas suas ligações, de que o estado da ferrovia, a terceira pior da Europa, só com a Bulgária e a Roménia atrás, é um exemplo elucidativo.

Num País que tem um dos maiores índices da Europa de quilómetros de autoestrada por habitante, o carro é claramente o rei quando se fala de mobilidade, sofrendo o nosso País as consequências que daí advêm, nomeadamente ao nível da sinistralidade rodoviária, da agressão do ambiente, do trânsito intenso e da própria utilização do espaço público, onde o peão é claramente um actor secundário.

No fundo, o que temos não é mais do que o reflexo das políticas adoptadas ao longo de décadas, que nunca trataram de promover a utilização dos transportes públicos nem de meios de transporte alternativos, como as bicicletas ou as scooters, que fazem parte da paisagem urbana da maioria dos países europeus, apesar das condições climatéricas incomparavelmente mais adversas.

Sem educação nesta matéria, a mentalidade das pessoas está formatada para o uso do carro, acabando por serem um forte aliado deste meio de transporte, esquecendo o quanto isso penaliza a qualidade de vida.

Obviamente que, no contexto do nosso País, há já exemplos de boas práticas e sinais que dão esperança de um futuro diferente, com algumas cidades a criarem zonas pedonais, principalmente nos centros históricos, a promoverem o uso da bicicleta, através de ciclovias e de serviços de aluguer, e a reforçarem os transportes públicos.

No entanto, a maioria das medidas são ainda muito embrionárias e não têm, para já, os impactos desejados. Entre esses exemplos não está, contudo, a nossa região, sendo o caso mais preocupante, atendendo à sua dimensão e população, o de Leiria.

Aqui, e excluindo o Mobilis que, apesar de ainda ter muito de melhorar para ser uma alternativa consistente ao uso do automóvel, tem feito bons progressos e atraído cada vez mais utentes, a mobilidade sustentável é pouco mais do que uma miragem.

As ciclovias são poucas e, curiosamente, todas em estradas com inclinação, o preço do estacionamento e a falta de soluções nas entradas da cidade empurram os carros para zonas residenciais, onde ocupam o espaço que deveria ser dos peões, e as zonas pedonais resumem-se à Praça Rodrigues Lobo, havendo ruas abertas ao trânsito sem espaço para passar um carro ao lado de uma pessoa.

Numa cidade com cerca de nove mil estudantes do ensino superior e um grande fluxo de entrada e saída de pessoas no inicio e no final do dia, não tem sentido que não se pense neste assunto com a ajuda de especialistas na área, não se olhe para o que têm feito outras cidades e, principalmente, não se passe à acção, perpetuando uma situação que está completamente desfasada da modernidade e daquilo que são as preocupações actuais da sociedade.

*director