Opinião

Letras | A Literatura Portuguesa do século XX – parte II

13 nov 2021 19:45

Mas como olhar este prodigioso século XX, sem falar de nomes grandes da nossa Literatura como são Jorge de Sena, Aquilino, Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira?

Retomando o decurso do prodigioso século XX na Literatura Portuguesa: – o movimento da Presença, a “folha de arte e crítica” fundada por José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca em março de 1927 e que marca o segundo momento do modernismo em Portugal.

Opõem-se ao que chamavam de literatura morta – a livresca e academicista de Júlio Dantas, por exemplo – e têm como pano de fundo o emblemático texto "Literatura Viva" de Régio: "Em arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística". Defendem a imaginação psicológica, a transposição imaginativa da análise introspetiva, na esteira de Gide e Valéry. Inscrevem-se neste movimento, para além dos já citados, nomes como Casais Monteiro, Carlos Queirós, Edmundo de Bettencourt, Alberto de Serpa, Saul Dias (irmão de Régio), Miguel Torga, e, de certo modo, Nemésio (meu bom professor).

Ferreira de Castro, noutro registo, vem com a sua primeira obra, Emigrantes (1928), que retrata “a sua dura experiência de emigração e sofrimento num seringal da floresta amazónia”, introduzir um realismo novo, um realismo social que terá continuidade no chamado movimento neo-realista. Quer na poesia, quer na prosa, o neo-realismo assume uma dimensão de intervenção social agravada pela miséria pessoal, social e cultural que se vivia no país, no tempo do Estado Novo. De entre os nomes que ficaram ligados a este movimento e já referidos no texto anterior, destaque-se o de Carlos de Oliveira, poeta e rigorosíssimo romancista, o escritor da “Gândara”, o seu mito pessoal e pessoal de “paisagem e povoamento” que tão bem descreve e sente em Finisterra, a sua obra máxima, na minha modesta opinião.

Carlos de Oliveira, juntamente com José Cardoso Pires ou Augusto Abelaira pertencem já a um segundo momento neo-realista marcado pelo reforço da repressão, pela guerra colonial e por um sentimento de encarceramento coletivo que vem contrariar o sentimento de euforia da geração de 40 que esperava tempos de libertação com o final da II Guerra.

Como a evolução se consuma na luta entre tese e antítese, começa na década de 50 a definir-se um contexto literário dominado por tendências antirrealistas, revendo princípios e técnicas narrativas, alargando o seu conteúdo à reflexão existencial, revisão que implicou a abertura de temas e processos e que marcou uma inflexão na carreira de escritores como Fernando Namora e Vergílio Ferreira.

Mas como olhar este prodigioso século XX, sem falar de nomes grandes da nossa Literatura como são Jorge de Sena, Aquilino, Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira? E as mulheres escritoras – tão esquecidas! – Irene Lisboa, Fernanda Botelho, Maria Judite de Carvalho, Isabel da Nóbrega, Natália Nunes, tantas… E a grande Agustina! Saramago!

E poetas? Florbela Espanca, Ruy Cinatti, Miguel Torga, David Mourão-Ferreira, António Gedeão, Ruy Belo, Cesariny, Sophia, O´Neill, Natália Correia, Eugénio de Andrade – tantos!

Sem mencionar os contemporâneos ainda vivos – António Lobo Antunes (o maior!), Lídia Jorge (a maior!), Maria Teresa Horta (a inconformista!), Teolinda Gersão … Há ainda muito para falar. Há muito para ler.