Opinião

Jazz e teletrabalho

10 mai 2021 15:50

Como vamos gerir as relações entre as pessoas, a coordenação do trabalho, o acolhimento e a difusão da cultura empresarial pelos novos empregados?

No passado dia 30 de Abril celebrou-se mais um Dia Internacional do Jazz, proclamado pela Assembleia Geral da ONU em 30 de Novembro de 2011, sob a iniciativa da UNESCO, para “sensibilizar o público sobre as virtudes do jazz como ferramenta educacional e força de empatia, diálogo e cooperação reforçada entre as pessoas”.

A música jazz é, efectivamente, incentivadora da inovação, da improvisação, de novas formas de expressão e aberto à inclusão de novos estilos, estimulando o diálogo entre culturas e influência em jovens. O jazz constrói pontes entre as diversas culturas, aproximando-as, num estilo alegre e criativo.

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, destaca, num vídeo alusivo à data, “que a ênfase igualitária na improvisação dá aos músicos a liberdade de criar como indivíduos enquanto se apresentam como parte de uma comunidade de som simbiótica”.

Na realidade, a partir de uma melodia, um tema central, tocada no início da peça musical por todos os músicos de uma banda de jazz em conjunto, cada músico irá desenvolver improvisações sobre esse tema, dando largas à sua virtuosidade e criatividade, enquanto os restantes membros da banda acompanham em segundo plano mantendo os acordes de enquadramento da improvisação.

No final, toda a banda regressa à melodia inicial. E, claro, eles também ensaiam. Improvisar dá trabalho.

Lembrei-me deste tema ao reflectir um pouco sobre o teletrabalho, as suas vantagens e constrangimentos, quer para as empresas e empregadores, quer para os empregados.

Vaticina-se que, mesmo depois da pandemia, o teletrabalho poderá representar cerca de 20% dos empregos, pelo menos.

O conceito de escritório poderá mudar significativamente servindo, principalmente, para as pessoas se encontrarem esporadicamente para reuniões, convívio ou, simplesmente, se conhecerem.

As secretárias poderão ser um produto obsoleto e, em substituição, veremos grandes ecrãs nas paredes.

Mas, como vamos gerir as relações entre as pessoas, a coordenação do trabalho, o acolhimento e a difusão da cultura empresarial pelos novos empregados, a manutenção de um espírito de equipa, o sentimento de pertença a uma comunidade a que, até agora, se dava tanta importância?

Como iremos garantir que, no final, todos os “improvisos” individuais resultarão na melodia que se definiu no início, como se fosse uma banda de jazz?

Deveremos preocupar-nos com novas questões como a saúde mental dos empregados em teletrabalho?

E como vamos adaptar as nossas casas que passam a ser, simultaneamente, um espaço da família e um escritório?

Qual o impacto na harmonia familiar?

Acredito que nos iremos adaptar, a prazo, a estas novas situações como a todas as mudanças no passado, infelizmente com vencedores mas também perdedores.