Editorial

Entrar nos eixos

11 dez 2025 08:01

Uns consideram que o metrobus não será suficiente para desmotivar a utilização do carro particular, outros vêem no metro ligeiro de superfície uma solução sobre-dimensionada para a procura provável em Leiria

As propostas de um sistema de metro para Leiria, apresentadas em voz alta na campanha das últimas eleições autárquicas, são mais do que meia dúzia de parágrafos diluídos nos programas eleitorais: podem ser rascunhos de futuro, linhas que podem redesenhar a forma como a cidade se movimenta, cresce e se adapta na geografia da mobilidade e da alta velocidade. O que hoje parece ser apenas uma disputa política entre metro ligeiro de superfície e metrobus é, na verdade, uma discussão que deve ser abrangente e levada a sério, para perceber a escala de ambição que Leiria se atreve a ter.

Com a nova estação da linha de alta velocidade (LAV) prevista para a Barosa, passa a existir uma nova centralidade em Leiria, não só pelo encurtar das distâncias temporais entre Lisboa e o Porto, mas essencialmente pelas mudanças da arquitectura urbana que vão ser criadas, quer na Barosa, quer na zona da Estação, onde funciona actualmente uma das paragens da moribunda Linha do Oeste. E por obrigar a desenvolver soluções modernas e funcionais para que o concelho e a região não fique apenas a ver passar comboios.

Como se sabe, e como vos damos a conhecer mais em pormenor nesta edição, a Iniciativa Liberal e o PSD, apontam como solução a criação de um metro ligeiro de superfície, usando, em parte, a parte da ferrovia da Linha do Oeste que será desactivada. Já o PS defende a criação de um sistema de metrobus, alimentado por autocarros eléctricos que se deslocariam em vias dedicadas.

Do lado dos especialistas em mobilidade, também não há consenso. Uns consideram que o metrobus não será suficiente para desmotivar a utilização do carro particular, outros vêem no metro ligeiro de superfície uma solução sobre-dimensionada para a procura provável em Leiria.

Como impacto deste tipo de projectos não se medirá apenas em quilómetros de via ou em milhões investidos, mas na forma como a cidade se irá reorganizar, esta divergência de ideias é bastante saudável, se conseguir transformar este conflito de visões num exercício sério de ordenamento e planeamento. E se conseguir encontrar uma opção final que desenhe uma cidade onde o metro não será luxo, mas quotidiano.