Editorial

Encontrão

1 mai 2025 08:02

Ficaram a nu algumas falhas, que poderiam ter tido consequências mais gravosas caso o processo de restabelecimento da energia se tivesse prolongado por mais tempo

O recente apagão energético que também afectou a região de Leiria expôs a fragilidade das infra-estruturas em situações de emergência e a dependência que temos da electricidade e dos sistemas digitais. Durante horas, muitas empresas viram-se obrigadas a encerrar, as escolas interromperam actividades, as comunicações colapsaram e milhares de pessoas sentiram-se perdidas, sem acesso a informação, sem meios de contacto com familiares, e sem respostas fiáveis sobre a origem do problema.

Paradoxalmente, num mundo em que a digitalização nos é apresentada como sinónimo de progresso, este episódio revelou que quanto mais evoluímos tecnologicamente, mais vulneráveis nos tornamos perante uma falha de energia desta dimensão.

Vários municípios accionaram os seus planos de emergência, mas ficaram a nu algumas falhas, que poderiam ter tido consequências mais gravosas, caso o processo de restabelecimento da energia se tivesse prolongado por mais tempo. Que daí sejam retiradas as devidas ilações e tomadas as medidas necessárias para o futuro.

Foi também preocupante constatar que, mesmo com a experiência recente da pandemia, há manias (ou fobias) que parecem não ter cura. Compreende-se, de alguma forma, a corrida às lanternas, às pilhas e aos aparelhos de rádio (para muitos a única forma de se manterem informados). Menos compreensível foi o ‘assalto’ aos enlatados, às conservas, à água engarrafada e ao papel higiénico (outra vez o enigma do papel higiénico) registado nos poucos estabelecimentos comerciais que conseguiram manter-se a funcionar.

Contudo, nem tudo foi negativo. Com os telemóveis sem rede e a internet em baixo, muitas pessoas saíram de casa, bateram à porta de vizinhos, conversaram na rua, partilharam preocupações, teorias e soluções. Por algumas horas, o contacto voltou a ser mais presencial.

É irónico, mas também simbólico, que durante a pandemia, estávamos ligados por ecrãs mas isolados fisicamente, e agora, no silêncio das redes, fomos impelidos ao reencontro. É esclarecedor que por mais que a tecnologia nos facilite a vida, a verdadeira resiliência continue a manifestar-se através do encontro.