Opinião
… E responsabilidade social
A cada teste deve estar associado um contexto e um objetivo. Que, neste caso, deve ser clarificar algum contacto ou comportamento de risco
Somos privilegiados. Fazemos parte duma pequena franja mundial que tem acesso a cuidados de saúde de qualidade. Regalia que nos acrescenta o ónus da responsabilidade.
Bens tão escassos devem ser usados com parcimónia, para poderem chegar àqueles com maior dificuldade em lhes acederem.
Iniciámos testagens em massa. Temos a responsabilidade de os usar bem. Importantes para apoiar o controlo da pandemia. Contraproducentes se mal aplicados.
Não por aqueles que empenhada e, na sua maioria, voluntariamente, tanto têm dado para garantir que se cumpram. Mas pelo risco que corremos de, mesmo com indicações expressas de que cada cidadão tem direito a apenas um teste a cada quinze dias, assistirmos não a testes em massa mas a um repetir em massa de testes. E com isso retirarmos recursos necessários a outros fins.
Não que seja mau fazê-los. De forma alguma. Mas a cada teste deve estar associado um contexto e um objetivo. Que, neste caso, deve ser clarificar algum contacto ou comportamento de risco.
Testar em massa nada mais significa do que uma maior triagem do risco de uma população. Em nada diminui o afinco que devemos continuar a imprimir a todas as medidas de prevenção, individuais e coletivas.
Muito menos significa que os testados se possam juntar para festejar. Porque as festas continuam ilegais. Por razões óbvias.
Até porque, a única coisa que o teste indica, com um determinado grau de sensibilidade e especificidade, conceitos que talvez fossem de valor as pessoas também conhecerem, para além do já por demais famoso R, é que, no momento em que foi feito, a pessoa estava ou não negativa para a presença do vírus, com um determinado grau de certeza, que não é de 100%, como nenhum teste o é.
Nada garante que, na hora da pretensa festa, alguém que testou negativo não esteja já positivo… Ou que algum resultado negativo fosse afinal um falso negativo, o que seria um verdadeiro desastre para o que estariam a festejar…
É esta a realidade dos testes, de qualquer teste. Dão-nos, com um determinado grau de certeza, ou incerteza, como preferirem, a probabilidade de estarmos ou não perante uma determinada condição.
E esse valor preditivo tem de ser integrado com mais informação, também ela com o seu próprio valor preditivo, para em conjunto corroborar, ou não, a predição inicial que levou à realização do teste. Clarificar algum contacto ou comportamento de risco.
Queremos todos viver mais tranquilos. Precisamos todos de viver mais tranquilos. Sabermos que a pessoa do lado testou negativo é muito importante.
Mas mais importante ainda é que cada um de nós continue, com o mesmo ou mais afinco, a cumprir todas as medidas de prevenção: uso de máscara, distanciamento, etiqueta respiratória, higienização adequada.
Continua a caber-nos a nós assumir a maior responsabilidade. Sermos vacinados ou testados em nada muda a responsabilidade que devemos continuar a assumir. O uso regrado dos recursos a que temos acesso. Ser cidadão é usufruir dos seus direitos, com contexto… (vide título).
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990