Opinião
Cinema | Weapons, os desaparecidos de 2h17
No fim, o que fica é a sensação de uma fábula sombria sobre o medo contemporâneo, o medo de perder o controlo
Em Weapons (2025), o realizador Zach Cregger – conhecido por Barbarian – regressa com um projeto mais ambicioso e enigmático, que mistura terror psicológico, drama e mistério existencial. O filme parte de um acontecimento inquietante: numa pequena comunidade americana, 17 estudantes desaparecem misteriosamente à mesma hora, deixando apenas um para trás. A partir daí, a narrativa fragmenta-se em várias perspetivas – a professora Justine (Julia Garner), o pai de uma das vítimas (Josh Brolin) e o polícia encarregado do caso (Alden Ehrenreich) – construindo um puzzle emocional e moral sobre trauma, medo e culpa coletiva.
A estrutura em capítulos é arriscada, mas eficaz. Cada segmento revela um pedaço de verdade, desafiando o espectador a montar o enigma. Cregger brinca com as expectativas e com os clichés do género, alternando momentos de horror puro com pausas contemplativas e até algum humor negro. A atmosfera é densa, quase sufocante, sustentada pela fotografia de Larkin Seiple, que transforma o espaço suburbano num terreno de ameaças invisíveis.
As interpretações são o ponto forte do filme. Julia Garner domina o ecrã com uma vulnerabilidade contida e uma força silenciosa que tornam a sua personagem memorável. Josh Brolin traz gravidade e desespero, e Ehrenreich dá corpo à inquietação moral e psicológica da investigação. A presença de Amy Madigan adiciona uma camada sobrenatural, com um toque de ritualismo e loucura que acentua o desconforto.
Nem tudo, porém, é totalmente coeso. Há momentos em que o argumento parece forçar o sobrenatural e deixa mais perguntas do que respostas. No entanto, é subtil e fácil de aceitar.
No fim, o que fica é a sensação de uma fábula sombria sobre o medo contemporâneo, o medo de perder o controlo, os filhos, a comunidade, ou até a própria humanidade. Weapons é imperfeito, mas fascinante: um retrato do terror moderno, mais psicológico do que sobrenatural, e inquietantemente próximo da realidade.