Opinião

Carlos Lopes

12 mai 2024 10:07

O País deve-lhe um livro onde se possam conhecer ao pormenor todos os feitos e os caminhos que trilhou para os conseguir

O que têm em comum Colombo, Edmund Hillary, Neil Armstrong e Carlos Lopes? À primeira vista muito pouco ou nada a não ser o facto de terem sido os primeiros a fazer algo que ninguém tinha feito antes. Séculos passarão e os seus feitos serão lembrados por quem folhear os livros de história, registando na memória coletiva momentos únicos e irrepetíveis.

Vem esta introdução a propósito da homenagem da Gala do Desporto desta sexta-feira ao nosso campeoníssimo que vai completar 40 anos do seu maior feito no próximo dia 12 de agosto, uma memória inesquecível para quem como eu teve a sorte de passar duas horas e pouco em frente ao televisor naquela madrugada de glória para todos os portugueses.

Já muito foi dito e escrito sobre a façanha, desde o atropelamento enquanto treinava na segunda circular umas semanas antes da prova até à recusa em ficar na aldeia olímpica com a demais comitiva, preferindo um hotel calmo à beira-mar na companhia da mulher para melhor descansar, ou o estudo que fez dos atletas africanos que achava serem os principais rivais, participando na maratona de Roterdão poucos meses antes dos Jogos para os estudar, desistindo intencionalmente por volta dos 30 km para não se desgastar para Los Angeles.

A sua carreira teve, no entanto, muitos outros momentos de glória, não tão celebrados, mas igualmente extraordinários. Falo, por exemplo, da sua primeira medalha olímpica em 1976, em Montreal, de prata porque corria na altura um finlandês de seu nome Lasse Viren que ficou para sempre associado à história do famoso “leite de rena”.

Esta medalha, a primeira do atletismo português, deu a conhecer ao mundo que existia em Portugal uma escola de meiofundo que tinha pernas para correr e um nome indissociável de Lopes e das suas glórias futuras (professor Moniz Pereira), bem como de outros enormes atletas que durante mais de duas décadas elevaram o nome do país a patamares de excelência.

Falo também dos 3 títulos de campeão do mundo de corta- -mato, o primeiro em 1976 e o último em 1985 com 38 anos, numa altura em que os africanos já eram donos e senhores da disciplina (o 2º classificado foi queniano, os 3º, 4º e 6º etíopes).

Falo ainda da melhor marca mundial da maratona e o primeiro registo abaixo das 2h e 08 minutos (2:07:12) no mesmo ano em Roterdão, sem lebres e correndo sozinho ou do recorde europeu dos 10.000 metros em pista em junho de 1982 com o tempo de 27:24.39.

Muitas mais vitórias e feitos poderia enumerar e por isso digo que o País lhe deve um livro onde se possam conhecer ao pormenor todos estes feitos e os caminhos que trilhou para os conseguir, obstáculos incluídos.

Porque se trata um herói eterno e se, enquanto pudermos o devemos honrar em vida, não devemos esquecer de cuidar do seu legado para as gerações vindouras. 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990