Opinião

Atletismo e inclusão

14 abr 2024 10:22

Países como a Jamaica, o Quénia ou a Etiópia têm alimentado o imaginário dos amantes de desporto de todo o mundo com grandes campeões

Num tempo em que tanto se ouve falar de radicalismo e extremismo, em que o mundo se converteu numa arena global onde o diálogo civilizado e a procura de consensos estão ameaçados e os argumentos da força são mais importantes do que a força dos argumentos, palavras como exclusão e inclusão têm hoje um peso mais substancial do que nunca no espaço mediático mundial.

Nesta batalha civilizacional que se vai travando um pouco por todo lado, o atletismo tem uma palavra importante a dizer, como modalidade para todos e em todo o lado. Nele cabem os velocistas e os fundistas, quem tem perfil para saltar alto e longe, mas também quem consegue arremessar objetos a distâncias enormes ou fazer tudo isto bem e, nas palavras do rei Gustavo V da Suécia para Jim Thorpe, vencedor do decatlo nos Jogos de 1912, ser considerado o melhor atleta do mundo.

Não conheço outro desporto onde os melhores do mundo possam vir de países ricos e com ótimas condições de treino ou de países pobres e com equipamentos de treino piores do que em muitas das nossas escolas. De todas as latitudes e continentes saem ídolos que nos inspiram e motivam, histórias de vida que suscitam admiração e respeito, que provam que não há impossíveis e que se pode chegar ao topo do mundo partindo de quem tem como único ativo o seu talento e a ele junta dedicação e trabalho.

Países como a Jamaica, o Quénia ou a Etiópia têm alimentado o imaginário dos amantes de desporto de todo o mundo com grandes campeões que ficam na memória e na história e que não fora o atletismo seriam ilustres desconhecidos. E porque não há gestos biomecânicos mais simples e universais do que correr, saltar ou lançar, o atletismo é a modalidade mais inclusiva do mundo. Aqui não há classes sociais, raça, nacionalidade, sexo, religião, ideologia ou convicção que impeça ninguém de sair de casa e, por exemplo, começar a correr. E muitos fazem-no, nunca como agora houve tanta gente que definiu como meta “correr uma maratona” e treina meses, às vezes anos até o conseguir.

Por outro lado, ainda recentemente Portugal se sagrou campeão do mundo de atletismo indoor para pessoas com deficiência intelectual (16 medalhas, 9 de ouro e 7 de prata) e a nossa Rosa Mota continua a ser notícia com recordes mundiais sucessivos na meia-maratona, categoria de veteranos entre os 65 e os 69 anos. Em pista coberta ou ao ar livre, nas estradas, no corta-mato ou em trilhos nas serras e montanhas, dos 7 aos 77 anos, na elite dos Olímpicos e Paralímpicos ou na alegria da corrida e do convívio noturno de mais uma Leiria Run, em toda a parte encontramos pessoas que de comum apenas têm a paixão de correr e para quem este gesto tão simples e primordial é parte essencial da vida.

O atletismo é verdadeiramente uma modalidade de todos, para todos.