Opinião
As tarifas de Trump e mundo multipolar chinês
A transição para um mundo multipolar é um movimento irreversível, do qual Trump e sua equipa deveriam estar perfeitamente conscientes
A mais recente onda de tarifas impostas por Trump à China, ao México, ao Canadá e à União Europeia representa nada mais do que os “últimos suspiros” de um mundo unipolar, onde os Estados Unidos da América (EUA) dominavam de forma absoluta. Hoje, países como Rússia, Índia e, especialmente a China, já não se submetem às diretrizes de Washington.
A China, detém vantagens inigualáveis em relação aos EUA, das quais se destacam: o quase monopólio das terras raras com mais de 70% do processamento global, essenciais para a indústria dos semicondutores, de veículos elétricos e hardware militar; o domínio global nas fábricas de bens de consumo de baixo custo e baterias para veículos elétricos; um mercado interno resiliente, com quase 500 milhões de consumidores da classe média em ascensão, que protege a China de choques externos; a dependência das grandes empresas tecnológicas americanas de componentes e minerais chineses.
A transição para um mundo multipolar é um movimento irreversível, do qual Trump e sua equipa deveriam estar perfeitamente conscientes. O termo “mundo multipolar” refere-se a um sistema internacional no qual o poder e a influência estão distribuídos entre múltiplos países ou blocos de países, ao invés de estarem concentrados em uma superpotência dominante, como ocorreu no período unipolar que se seguiu ao fim da União Soviética, na última década do século passado.
Desde então, os Estados Unidos têm exercido a preponderância do poder e, direta ou indiretamente, controlado grande parte dos recursos globais. No entanto, atualmente observa-se uma transição para um mundo multipolar, impulsionada pela ascensão de potências emergentes lideradas pela China.
Países como China, Índia e Rússia desempenham papéis cada vez mais influentes, desafiando a hegemonia tradicional dos EUA e promovendo uma ordem mundial que se caracteriza por uma distribuição mais equilibrada e justa do poder entre diversas nações, alterando as dinâmicas de cooperação internacional e a estrutura da ordem global.
Essa transição para a multipolaridade tem implicações profundas para a geopolítica mundial, afetando tanto a cooperação internacional quanto a eficácia das instituições multilaterais, como as Nações Unidas. O aumento da competição entre grandes potências tem dificultado a obtenção de consensos em fóruns globais, onde não foram alcançados compromissos significativos. A própria incapacidade de encontrar soluções diplomáticas para os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio é consequência dessa dificuldade em obter consenso entre as grandes potências.
Num mundo multipolar, as tarifas de Trump acabam por prejudicar mais a economia americana do que a chinesa, uma vez que aumentam os custos de produção nos EUA, enquanto a China redireciona suas exportações para o Sul Global, um mercado multipolar imune à intimidação de Washington. Enquanto a administração Trump impõe sanções, sem qualquer lógica, a China desenvolve sua indústria e estabelece acordos comerciais sobre recursos no continente africano e na américa latina.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990