Opinião
Europa a perder relevância económica num mundo multipolar
Fingir que o mundo não está a mudar não ajudará a encontrar novas soluções e caminhos alternativos para os desafios globais
No passado dia 15 fevereiro a Comissão Europeia apresentou as previsões económicas para 2024 que confirmam a desaceleração da economia europeia. A zona euro apenas cresceu 0,5% em 2023 e não crescerá mais de 0,8% em 2024. Em 2025 a zona euro deve crescer 1,5%, valores muito inferiores às previsões do Banco Mundial para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ao nível global.
Segundo o Banco Mundial a economia global cresceu 2,6% em 2023 e deverá crescer cerca de 2,4% em 2024. O que será o terceiro ano consecutivo em desaceleração. Estamos perante o pior resultado económico, acumulado nos últimos 5 anos, desde a década de 1990. Em 2025 a economia global deverá crescer 2,7% e não 3% como previsto nos anteriores relatórios. Importa salientar que estas previsões podem ser afetadas negativamente com a escalada do conflito no Médio Oriente e com o possível alargamento do conflito russo-ucraniano a outros países.
Em relação à economia portuguesa em 2023 cresceu 2,3% muito diferentes dos 6,8% de crescimento económico em 2022, ano pós pandemia do Covid-19. Esta desaceleração foi, essencialmente, provocada pela diminuição do consumo privado e do investimento, consequência do aumento substancial das taxas de juros.
As previsões da Comissão Europeia para a economia portuguesa são de 1,2% em 2024 e 1,8% em 2025. A inflação anual medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) irá cair dos 5,3% em 2023 para 2,3% em 2024 e 1,9% em 2025.
Com crescimento económico residual a Europa dificilmente conseguirá manter, ou mesmo recuperar, o seu estatuto de centro de decisão e influência global. Se fizermos uma análise ao crescimento acumulado nos últimos 20 anos a situação é ainda mais preocupante. Entre 2000 e 2020 o crescimento acumulado da China foi de 1266%, da Rússia 466%, Índia 440%, Brasil 316%, Turquia 250%, África do Sul 200% e Indonésia 175% contra os 108% dos Estados Unidos da América, 85% do Reino Unido, 77% da Alemanha, 68%, 63% da França e 6% do Japão.
Fingir que o mundo não está a mudar não ajudará a encontrar novas soluções e caminhos alternativos para os desafios globais. Se os Estados Unidos da América continuarão a ter um papel de relevo a nível global não é menos verdade que a China, Índia, Rússia, Indonésia e Brasil também serão centros de poder e influência a considerar nas relações político-económicas da União Europeia.
Continuar a seguir apenas as diretrizes americanas só tornam a Europa mais dependente e com menos capacidade de responder aos novos desafios globais.