Opinião
Aplausos e puxões de orelhas
Há alguns anos, em entrevista ao JORNAL DE LEIRIA, o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles referia que as cidades não podiam voltar as costas às hortas e ao meio urbano, sob pena de perderem qualidade de vida, piorarem a saúde dos habitantes e sofrerem com a poluição provocada pelo automóvel. De lá para cá, muitas cidades portugueses apostaram na criação e requalificação de parques verdes urbanos, zonas de lazer, enquanto outras continuaram a marcar passo, com cada vez menos verde, menos árvores, sem jardins e parques públicos.
A Marinha Grande e Caldas da Rainha pertencem ao primeiro lote, Leiria integra o segundo. Contudo, mesmo nas cidades e vilas onde agora há mais verde, a relação com as hortas urbanas continua difícil. Há boas experiências e comunidades que, como verificamos no artigo Momento zen do dia: cuidar da horta, publicado nesta edição, encontraram algum equilíbrio nas suas vidas, no regresso a uma actividade que não apenas enriquece a mesa, como enriquece a mente e serve de escape para a azáfama do dia-a-dia. Naturalmente, nem toda a gente sente vocação para ser hortelão – há quem prefira comprar os legumes no supermercado, envoltos em higiénico plástico, e tem horror a calos e bolhas nas mãos -, nem será de esperar que, de repente, os terraços e terrenos desocupados na malha urbana comecem a ficar pontilhados com hortinhas.
Não obstante, há que aplaudir a abnegação dos nossos agricultores biológicos urbanos e o JORNAL DE LEIRIA faz-lhes a devida vénia nesta edição. Esta semana, fomos também perceber o que andam a fazer os deputados eleitos em nosso nome, com os nossos votos, para defender os nossos interesses. Com a Assembleia da República de férias de Verão, descobrimos que há quem participe em muitas Comissões Parlamentares – grupos de trabalho com elementos de vários partidos que trabalham temas que serão mais tarde apresentados no plenário - e que há quem participe em poucas. Justificações, para mais ou menos trabalho, há para todos os gostos.
Das “missões parlamentares” ao “trabalho político” - que, na verdade, dever-se-ia apelidar apenas de “trabalho partidário”. O que não percebemos são as razões que levam a que continuamente os grandes planos e anseios da população do distrito, que até são transversais aos eleitores de todo o espectro político, como a despoluição do Lis e da Baía de São Martinho do Porto, a depauperada e fantasma Linha do Oeste, a Universidade em Leiria, a abertura da Base Aérea n.º5 ao tráfego civil e a promoção do património, cultura e turismo da região, só para dar alguns exemplos, continuem sem ter uma posição comum, clara e forte, i.e. um verdadeiro lobby.
Caros deputados da Nação eleitos por Leiria, é preciso não esquecer que, antes dos partidos, está o interesse do povo que vos elegeu e só muito depois estão as questiúnculas intestinais e partidárias em que desperdiçam boa parte do tempo. É certo que a carapuça não cabe a todos, sabemos disso. Em quatro anos, pode fazer-se muita coisa, desde que haja vontade e inteligência. A Marinha Grande e os moldes não podem continuar a ser a única bandeira de uma região que, a cada dia que passa, estagna e se atrasa cada vez mais.