Opinião

A magia do ciclo

11 out 2022 21:45

A magia deste ciclo é que nunca vamos para casa indiferentes ao que assistimos

Tem estado a decorrer desde Maio, em Leiria, a segunda edição do Ciclo de Música Exploratória Portuguesa, um evento com a assinatura da Fade In – Associação de Acção Cultural, que conta com o apoio do Município.

Tal como aconteceu na edição seminal, também esta culminará com uma exposição colectiva e com o lançamento de um livro, se tudo correr como previsto, em Março de 2023.

Nalguns dos palcos mais bonitos da cidade (Igreja da Pena, Igreja de São Pedro, CDIL - Igreja da Misericórdia e Museu de Leiria) têm acontecido concertos verdadeiramente impactantes, com intervenientes que usam as suas linguagens musicais como autênticos manifestos de singularidade.

Foi assim, até agora e sem excepção, com as prestações ao vivo de Carlos Zíngaro, Ece Canli, Gabriel Ferrandini, Luís Pestana, Adolfo Luxúria Canibal & Marta Abreu, Maria da Rocha e Bezbog.

Os nomes que vão completar o ciclo são David Maranha Ensemble, Knok Knok (projeto de Armando Teixeira) e Bernardo Devlin, sendo que os seus “currículos” dão-nos a certeza de que a toada de excelência vai continuar a prevalecer.

Por exemplo, no próximo sábado, 8 de Outubro às 19 horas, no CDIL – Igreja da Misericórdia, podem comprovar isso mesmo com a actuação de David Maranha Ensemble.

David Maranha fundou os incontornáveis Osso Exótico (que actuaram no ciclo o ano passado) em 1989 e desde 1994 que também edita em nome próprio ou em colaborações.

Do leque de álbuns colaborativos fazem parte nomes como Gabriel Ferrandini, Stephan Mathieu, Andrea Belfi, David Crubs, Helena Espvall, Alex Zhang Hungtai, Chris Corsano, Richard Youngs, Phil Minton ou Z'EV, do saudoso Stefan Joel Weisser.

Quando em 2016 abordámos o álbum "Salt, Ashes, Goat Skin" editado por este ensemble (à data, com Maranha no órgão e violino; Diana Combo na bateria; e Filipe Felizardo na guitarra – em Leiria apresentar-se-á com João Valinho na bateria e Manuel Mota na guitarra) ficámos siderados e com uma vontade enorme de "ver" essa magnífica obra interpretada na cidade do Lis.

Volvidos seis anos, cumpriremos, finalmente, esse desejo.

A sua música densa, de uma deliberada e contínua repetição quase autista (se tivesse a voz de Michael Gira confundi-la-íamos, certamente, com a obsessão dos Swans) ressoará na Igreja da Misericórdia como uma espécie de vórtice que nos atordoa e embriaga.

No fim, ou sairemos dali completamente expurgados ou ficaremos para sempre presos nas garras do seu feitiço.

A magia deste ciclo é que nunca vamos para casa indiferentes ao que assistimos.