Opinião

A Adolescência em Estado de Emergência

11 abr 2025 16:34

Urge criar medidas efectivas e leis duradouras, para repensar a segurança dos menores, evitando que sejam ainda mais arrastados para o “turbilhão de ódio e misoginia”

A quem deveremos pedir responsabilidades, além de a nós próprios, pela saciação dos instintos primários dos adolescentes? Criar dependência de uma rede social, é tão ilegal quanto ficar dependente de álcool, tabaco, cannabis ou cocaína. A dopamina é o neurotransmissor mais eficaz para ficarmos viciados em nicotina, drogas, jogos, apostas e pornografia. As redes sociais dão injecções de dopamina à descarada.

É o poder dos algoritmos a sobrepor-se, com toda a estimulação induzida virtualmente, aceite através daqueles com quem se cria uma ligação ‘pseudo-emocional’. Não são perfis de entidades devidamente reguladas a validar os conteúdos - como é o caso do jornalismo isento - mas sim, o fluxo proveniente das contas individuais de criadores de conteúdos ou perfis falsos, que operam de forma deliberada, conseguindo viciar a mente através do fluxo destrutivo e indutor de perturbação.

«Adolescência», já considerada a série televisiva do ano, drama criminal da Netflix escrito por Jack Thorne e Stephen Graham, chama a atenção para o impacto das redes sociais entre menores, conquistando em poucas semanas a liderança do ranking em 79 países, incluindo Portugal.

Por decisão do primeiro-ministro britânico, será exibida em todas as escolas do Reino Unido, tendo Keir Starmer, no seu papel de pai, partilhado que “foi muito emocionante” ver a série com os filhos adolescentes, porque “todos precisamos destas conversas”.

Está aberto o debate em torno do ‘estado de emergência’, que há 4 anos exigiria um ‘plano de contingência’, por risco de morte iminente. Urge criar medidas efectivas e leis duradouras, para repensar a segurança dos menores, evitando que sejam ainda mais arrastados para o “turbilhão de ódio e misoginia”.

Não há nada mais forte no cérebro humano (e mais difícil de desfazer) do que o trajecto da recompensa: a habituação é tal, que mesmo quando um comportamento já não satisfaz, não o renunciamos, porque nos deu recompensas no passado. O funcionamento das redes sociais assenta no conhecimento profundo dos sistemas neuronais. O seu modelo económico visa a exploração das vulnerabilidades do ser humano.

É inconcebível que os governos se deixem manietar por visões gananciosas, à descarada, permitindo que manipulem, irreversivelmente, os menores (com a conivência de todos), gratificando-os com doses de dopamina, a hormona do prazer e recompensa. Favorecer conteúdos com carga emocional, dilata a produção dos utilizadores, e o negócio de escala é ampliado, o que significa que empresas e Estados têm interesses em generalizá-lo, sem condenação.

Crie-se em Portugal um movimento que institua empatia e comunicação compassiva – a conversa face-a-face –, banindo o desregulado(r) digital da vida de todos nós. Será que alterar a jurisprudência fará desmoronar a economia digital, ou as plataformas que também servem os governos são «too big to fail»? Quantos mais adolescentes terão de ser ‘esfaqueados’…?