Opinião

Em que mundo queres tu viver?

18 out 2024 16:30

O domínio mais severamente implicado é o das competências sociais, tornando os adolescentes em adultos vulneráveis, tendencialmente depressivos

Yuval Nohah Harari, a respeito do seu mais recente livro Nexus – História Breve das Redes de Informação da Idade da Pedra à Inteligência Artificial (Elsinore), afirma que todos «precisamos de uma dieta de informação. A sabedoria requer menos informação». E acrescenta: «há demasiada informação inútil», o que remete para a sobrelotação de estímulos e desinformação, duas antíteses do conhecimento.

O autor fala de Junkinformation, à semelhança do que sucede com a junk food, aludindo ao carácter descartável e tóxico desses ‘alimentos’ que contagiam corpo e mente, impacto para o qual as neurociências vêm alertando: a devastação neurológica e psicoafectiva que a tecnologia está a provocar na humanidade ‘computorizada’.

Noutro livro, A Geração Ansiosa - Como a Grande Reconfiguração da Infância está a provocar uma Epidemia de Doença Mental (D. Quixote), o psicólogo Jonathan Haidt reporta o colapso da saúde mental dos jovens, revelando dados sobre patologias mentais em adolescentes que atingiram taxas de depressão, ansiedade, automutilação e suicídio que ampliaram na última década, em muitos indicadores, mais do que duplicando.

Haidt afirma estarmos perante a «maior destruição de capital humano na História da Humanidade», grave risco de «colapso civilizacional». Somos criaturas biológicas cuja filogenia confere um desenvolvimento incompatível com a hiperestimulação. Na puberdade, fase crucial do desenvolvimento, em que o cérebro se configura para a idade adulta, ocorre uma exposição desproporcional à tecnologia (smartphones e similares), comprometendo a maturação neurológica.

O domínio mais severamente implicado é o das competências sociais, tornando os adolescentes em adultos vulneráveis, tendencialmente depressivos, propensos ao isolamento social e às perturbações ansiosas, incapazes de relativizar ocorrências, intolerantes à frustração, adversidades e críticas, inaptos para suportar e gerir conflitos.

Outra dificuldade, consiste na fragmentação da atenção, potenciada pelas redes sociais. Em idades precoces, a supersónica sucessão de estímulos, compromete, irremediavelmente, o desenvolvimento do córtex pré-frontal, área cerebral empregue no controlo da atenção e funções executivas.

Este é o real contágio. A vida requer métodos de planeamento e decisão. Quererão os governantes, que também se enredam na superficialidade dos conteúdos digitais, regulamentar os «bloqueadores de experiências» que geram a ignorância e o embrutecimento colectivo?