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Villa Portela terá entrada gratuita e quer ser “um oásis” com “nomes sonantes” na exposição de abertura
Obra está atrasada e vai ficar mais cara do que inicialmente se previa
“Estamos a viver em directo o peso do tempo, que nos escapa. De facto, já gostaríamos de ter aqui os primeiros acontecimentos enraizados no discurso da arte”, diz Rita Gaspar Vieira, directora artística do Centro de Artes Villa Portela, projecto que segue com 14 meses de atraso.
Na propriedade com 17 mil metros quadrados, e, em especial, no palacete do século XIX com três pisos para exposições de arte contemporânea, Rita Gaspar Vieira quer que o público “sinta um outro tempo”, um tempo “desacelerado”.
“A obra, paradigmaticamente, está atrasada, não está no patamar que nós queríamos”, admite, sem arriscar uma data para a abertura. “Temos esperanças que não tarde tudo. Já há muita coisa feita”.
De acordo com o município de Leiria, Maio é, actualmente, o mês em que o executivo prevê inaugurar o novo equipamento. O prazo inicial apontava para a conclusão dos trabalhos em Novembro de 2023. O investimento, já é certo, vai ficar mais caro.
A intervenção “trouxe algumas surpresas”, porque o chalet construído em 1894 “estava muito degradado”, justificou a vereadora com o pelouro da Cultura, Anabela Graça, durante uma visita com jornalistas, esta quinta-feira.
Com entrada gratuita, o Centro de Artes Villa Portela vai, segundo a autarca, reforçar a oferta “não só cultural mas também ao nível do lazer e do bem-estar” e estabelecer uma “relação muito forte com a sustentabilidade e a questão ambiental”, que representa um “potencial enorme”.
Se nenhum outro contratempo surgir entretanto, em Maio será então inaugurada a primeira exposição, espalhada entre o interior e o exterior, com o título Sonho Manifesto – Em Leiria Todas as Árvores são Pinheiros. Curadoria de Rita Gaspar Vieira e Sandra Vieira Jürgens, a partir de obras da Colecção de Arte Contemporânea do Estado e de outras, inéditas, encomendadas a artistas como a brasileira Sandra Cinto e os portugueses Tiago Baptista (de Leiria) e Gabriela Albergaria.
“Vamos ter aqui garantidamente nomes sonantes que todo o público conhece e que vêm dessa Colecção do Estado”, salienta Rita Gaspar Vieira.
Sonho Manifesto inspira-se no Pinhal de Leiria para, através da pintura, da escultura, do vídeo e da instalação, ligar a Natureza e os saberes antigos com o contemporâneo e a tecnologia.
Na Villa Portela, e em articulação com o BAG – Banco das Artes Galeria, Rita Gaspar Vieira pretende ter a arte “enquanto território de liberdade” e “de encontros”, mas, também, “de dúvidas, de erros e de questionamento”.
“Se calhar não chegamos sempre a consenso, mas pode passar por uma discussão produtiva e criativa”, afirma. “Podemos ser livres nas nossas ideias mas nem sempre podemos expressá-las publicamente. O lugar da arte é o lugar de expressar essas ideias publicamente”.
A ocupação imaginada para um perímetro até agora vedado aos leirienses contempla exposições, formações, serviços educativos e, em simultâneo, um “lado lúdico” e “mais convivial”, ligado à cafetaria e ao jardim, adianta a directora artística do novo centro de artes. Será “um território de especialistas” com artistas emergentes e artistas consagrados em diálogo, e, por outro lado, “um lugar de acolhimento” para vincar que “não é elistista gostar-se de arte contemporânea” e para permitir “aprender a olhar, aprender a ver”.
“Não pretendo nem me interessa nada que as pessoas saiam daqui com uma fórmula e com uma definição fechada do que é arte”, assegura.
“Olhar para a cultura local vai ser aqui fundamental”, antecipa Rita Gaspar Vieira, a quem, no entanto, não interessa a distinção entre “artistas locais” e “artistas de fora”. Ser de Leiria “não é motivo de exclusão e não é motivo de privilégio”, assinala. “Para mim todos são de dentro”.
“Eu sou natural de Leiria, escolhi viver e trabalhar em Leiria, pago algum preço por isso, e muitos artistas estão a fazer o mesmo que eu, e outros terão vontade de vir a fazer o mesmo, se calhar, de vir para Leiria. Toda a gente passa a ser de Leiria se vier para Leiria, se estiver cá”, explica. “A ideia é acolhermos, é recebermos”. E reforça: “É uma morada para a arte, seja ela do Japão, seja do Brasil, seja de Portugal, seja de Leiria, seja de Lisboa, seja do Porto”, um destino para “promover ligações” e “aproximações”.
“Este é uma espécie de lugar ilha, um oásis, nós estamos a pensar num oásis”, resume.
Sustentabilidade, participação e criatividade definem um programa que tem como objectivos valorizar a dimensão ecológica e a relação com o jardim. Estão em perspectiva “um conjunto de iniciativas, por um lado alicerçadas no que é o serviço educativo, a biodiversidade, a protecção do ambiente, mas, também”, outras, “mais festivas, mais celebrativas”, avança Rui Cunha, chefe de divisão no município de Leiria.
No palacete funcionará uma biblioteca, e dos três pisos com áreas expositivas, o piso três fica reservado para as media arts. O edifício B, antigas cavalariças, será um laboratório criativo vocacionado para a produção, com oficinas, auditório e condições, em dois pisos, para acolher residências artísticas e workshops.
Já no exterior, ao ar livre, haverá mais um auditório, junto ao lago, um miradouro com vista para o castelo e um jardim infantil. E, claro, a cafetaria, que o município vai concessionar.