Viver

Uma boleia surreal na ilha do Fogo

22 mai 2016 00:00

Cabo Verde

(Fotografias: DR)

Depois de uma viagem agitada desde a ilha de Brava, chegámos finalmente à ilha do Fogo. Devido à última erupção em 2014, há lava por todo o lado e o caminho até Chã das Caldeiras é improvisado por caminhos de terra batida.

No primeiro dia, debaixo de um calor abrasador e quase nenhuma sombra, explorámos toda aquela área a pé. No dia seguinte, acordámos às 6 da manhã para subir até ao Pico do Vulcão.

Demorámos cerca de três horas. Entre algumas subidas mais difíceis e o forte vento que se fazia sentir, ficámos exaustos, mas sem dúvida que valeu todo o esforço. Estar por cima das nuvens com vista para a cratera é algo de inexplicável. Não há palavras para descrever o que sentimos naquele momento.

Fica-se boquiaberto… Infelizmente, tinha chegado a hora de nos separarmos. Enquanto os meus amigos iriam continuar por mais três semanas em Cabo Verde, eu tinha voo no dia seguinte para Santiago. Na pousada onde almoçámos, tentei saber se havia turistas que iriam para São Filipe, a principal cidade da ilha, onde apanharia o avião.

Não havendo qualquer turista nesse dia, perguntei pelo preço de um táxi. 50 euros! Nunca iria pagar aquele preço por uma viagem de uma hora. 50 euros tinha eu pago para fazer no dia seguinte a viagem de avião até Santiago!

Sentei-me na esplanada e esperei cerca de meia hora até passar a primeira viatura. Mandei parar e pedi boleia até à próxima localidade. Nessa localidade tinha transporte até São Filipe. Pedido aceite, despedime dos meus amigos e entrei no Jeep.

Os viajantes eram bem simpáticos e faladores. O João, que ia a conduzir, o Ângelo e o senhor António, que já tinha 76 anos.Aconselharam-me a sair noutra localidade mais perto da capital, onde poderia apanhar uma Hiace, o famoso transporte público para São Filipe.

Passados 20 minutos, param o Jeep ao pé de uns trabalhadores. Cumprimentam o pessoal e sacam de um bidão de gasolina do Jeep. Quando reparo, o bidão não trazia gasolina mas sim… vinho!

E serviam vinho a toda a gente, inclusive a mim. Apesar de brincarem comigo por ser português, eles eram super educados. Anda lá português. Tens de beber mais um copo!” Todo este banquete inesperado de vinho durou mais de uma hora. Tinha bebido quatro copos de vinho maduro.

Como tinha comido pouco ao almoço, começava a sentir as pernas a tremer. Finalmente entram no Jeep, ligam o motor e quando eu achava que seria desta que nos iríamos embora, estava bem enganado.

Passa uma motorizada com dois tipos, cumprimentam-se e voltam a desligar o motor da viatura. Mais uma rodada de vinho para todos! Só visto! Eu já nem sabia se havia de rir ou implorar os deuses.

Sabia apenas que o último transporte para São Filipe, lá na tal vila mais próxima, era às 18 horas. Sem stressar, deixei-me levar apenas pelo momento, pois achava que de uma maneira ou de outra iria chegar à capital.

Por um lado, até estava a achar piada a uma boleia “com tudo incluído”. Só me faltava mesmo a pulseira, como nos resorts. Meia hora depois continuámos finalmente a viagem. Já meio tocado da pinga, o senhor António não se calava. Queria que o João parasse o Jeep numa certa localidade.

Param o Jeep e sai o senhor António disparado. Passados uns minutos volta com quatro queijos enormes. Um para cada um. Aceitei de bom grado, já que o vinho me estava a subir à cabeça. 

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