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Um pintor de Leiria em destaque no café A Brasileira do Chiado
Apenas pela terceira vez em quase 100 anos, novos quadros vão decorar o histórico estabelecimento de Lisboa. E um deles tem raízes na Maceira
Com o título “Vestígio e simulacro de mim”, está entre os novos quadros para ver no café A Brasileira, em Lisboa.
“A minha obra, inspirada por Fernando Pessoa, é uma tentativa de capturar a essência multifacetada deste poeta que tanto nos fascina e desafia”, escreve Nelson Ferreira, no seu site. “Pessoa, frequentemente descrito como um oceano de pensamentos e emoções, aparece aqui retratado numa paisagem surreal que é, ao mesmo tempo, ele próprio e também a vastidão que simboliza”.
Natural da Maceira, no concelho de Leiria, Nelson Ferreira é um dos 10 artistas seleccionados para esta iniciativa. Os outros são António Faria Costa, Catarina Mendes, Catarina Oliveira, Filipe Amaral, Isabella Fernandes, Margarida Costa, Martim Vilhena, Nelson Ferreira, Rui Braz e Sara Conde.
É apenas a terceira geração de quadros no histórico estabelecimento do Chiado, que em 2025 atinge 120 anos em actividade.
Em 1926, o fundador, Adriano Telles, decorou o espaço com obras modernistas de pintores como Almada Negreiros e Eduardo Viana. Em 1971, nova fornada, de Marcelino Vespeira e António Palolo, entre outros. E, este ano, outro conjunto, em que se insere a tela de Nelson Ferreira.
“Na composição, Fernando Pessoa é tanto figura quanto água. A superfície de um lago, que se ergue verticalmente, reflecte e fragmenta a sua imagem de forma infinita. É um reflexo do reflexo – um eco visual que dialoga com a fragmentação psicológica e identitária tão presente na obra do autor”, descreve o artista leiriense. “No ar em volta da sua silhueta, flutua uma citação emblemática de O Livro do Desassossego: “Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim. O meu passado é tudo quanto não consegui ser””.
“A Brasileira é muito mais do que um café; é um símbolo da cultura lisboeta, um espaço onde artistas, poetas e pensadores de várias gerações encontraram inspiração. A Brasileira é o café mais famoso de Portugal, um dos três cafés mais antigos de Lisboa, e conhecida por popularizar o consumo de café no país, especialmente a “bica”. Ver a minha pintura neste contexto, ao lado de obras de artistas que tanto admiro, é um marco na minha jornada enquanto pintor”, reconhece, no mesmo texto, que partilhou na internet.
Os 10 quadros que entram em 2025 foram escolhidos no âmbito do Prémio de Pintura A Brasileira do Chiado. Vão estar nas paredes do café durante alguns meses enquanto o segundo grupo de quadros (de 1971) sai para restauro.