Viver

Um novo álbum de Yesterday, sobre “o lado feio das coisas”

2 nov 2022 09:14

Everything is (always) about to end, novo álbum de Pedro Augusto (Yesterday), fala de como tudo está sempre a mudar, a um ritmo que o coração nem sempre consegue ou quer acompanhar

Enquanto não realiza “o sonho” de iniciar “uma música que dure, literalmente, um milhão de anos”, Pedro Augusto partilha uma faixa com mais de uma hora, a encerrar o novo álbum do projecto a solo Yesterday, desde hoje, 2 de Novembro, disponível nas plataformas digitais.

O vídeo do primeiro single, “V”, também já se encontra no YouTube.

Everything is (always) about to end, o primeiro longa duração de Yesterday após The Waiting em 2014, é um exercício de colagem sobre fragmentos, detritos e estilhaços que mostra o músico de Leiria num registo mais experimental e exploratório, a trabalhar texturas e ambientes.

“As possibilidades são infinitas, o que significa que podemos estilhaçar o que quer que seja um álbum ou uma música”, argumenta, durante a conversa com o JORNAL DE LEIRIA.

No texto que acompanha o lançamento, outra vez independente, conclui: “Este trabalho está, para mim, às portas de uma espécie de exploração no domínio da anarquia musical”.

Vencedor do Termómetro Unplugged em 2006, representado na colectânea Novos Talentos Fnac em 2012 e Prémio Jovens Criadores no mesmo ano, Pedro Augusto mantém-se deliberadamente desligado do circuito, da procura de editoras, agentes ou intermediários, de quem conhece quem na rádio e na televisão, ele próprio o escreveu anteriormente, não lhe interessam comunidades nem o conceito “brilhante” de cultura, apenas “o mais sujo e desgastado”.

A capa do novo álbum de Yesterday

Empenhado em testar o potencial das ferramentas de composição, gravação, edição e distribuição, fora dos modelos convencionais da indústria, Everything is (always) about to end – com 13 temas a que correspondem 13 vídeos – não é um álbum como os anteriores, pelo contrário, apresenta-se como uma “primeira resposta às (…) incessantes preocupações acerca do que é a música e do que significa fazer música”, escreve o músico de Leiria no Bandcamp. “As letras deixaram de fazer sentido para mim, bem como a estrutura musical e até, por vezes, a melodia”.

Na origem de Everything is (always) about to end, explica Pedro Augusto ao JORNAL DE LEIRIA, descobre-se o “sentimento forte” de estar “sempre à beira da catástrofe”, tanto a nível pessoal como colectivo, o resultado de “anos complicados” a proporcionar uma “vertigem muito particular” que se manifesta na forma de música. Tudo está sempre a mudar, a um ritmo que o coração nem sempre consegue ou quer acompanhar. Embora, por vezes, “algo idílico”, a atmosfera “é sempre um sinal de luto”.

“Interessa-me explorar o lado feio das coisas”, acrescenta, numa “constatação libertadora” que acompanha o desapego por continuar a compor “no sentido tradicional”. Yesterday já não é um projecto de escrita de canções.

O título do novo álbum, gravado num estúdio caseiro, na Boa Vista, traduz, literalmente, o ponto de encontro com a sensação de que o fim de tudo está, sempre, iminente. A meio de uma tese de doutoramento em Filosofia que pesquisa o despojamento e os destroços do capitalismo, Pedro Augusto regressa aos discos com o espírito de um historiador do abandono.