Sociedade

Só falta o “quase” para que a Procissão dos Caracóis entre no Inventário Nacional

14 ago 2025 12:00

Terminada a fase de consulta pública, a candidatura aguarda pelo despacho do presidente da Património Cultural, IP

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Procissão dos caracóis tem origem entre os séculos XV e XVI
Ricardo Graça/Arquivo
Inês Gonçalves Mendes

Está prestes a ser aceite a candidatura da Procissão dos Caracóis, no Reguengo do Fétal, ao Inventário Nacional do Património Cultural.

Tem sido um processo moroso, mas já se vê uma luz ao fundo do túnel para esta tradição secular, que reúne a população ao redor da fé a Nossa Senhora do Fétal.

Segundo Ana Moderno, conservadora do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha (MCCB), a fase da consulta pública terminou em Junho e só falta o despacho do presidente da Património Cultural, IP, para que esta tradição integre o Inventário Nacional.

No caso da “festa dos caracóis”, como é popularmente conhecida, foram os técnicos do MCCB, com o apoio da Junta de Freguesia do Reguengo do Fétal e da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria quem, com a aplicação do método etnográfico, realizou entrevistas, observações de campo, criou material audiovisual e fez recolha de documentação.

O trabalho de investigação ajuda a dar evidência desta manifestação e foram entrevistados idosos, crianças que também participam na procissão e até imigrantes vindos dos EUA. “No Verão e na altura da procissão, vêm propositadamente para participar na festa. Há um senhor, o senhor Joaquim, que tem a casa mesmo no centro do Reguengo e abre as portas para fazer as filhoses, uma iguaria muito associada às festas”, exemplifica.

As mudanças no Governo fizeram atrasar este passo final do despacho, que só a sua publicação em Diário da República oficializa a Procissão Nocturna no Inventário Nacional.

A procissão dos caracóis tem origem numa visão mística de Nossa Senhora, algures ente os séculos XV e XVI, por uma pastorinha, que levaria, por acção papal, à criação do Santuário do Reguengo do Fétal e ao estabelecimento de peregrinações até esta aldeia.

A celebração integra três procissões: na primeira, realizada no último sábado de Setembro, à noite, a imagem de Nossa Senhora desce da ermida para a igreja paroquial. Na segunda, no sábado seguinte, também à noite, faz o percurso de regresso, e, no domingo de manhã, começa uma nova procissão a partir da igreja em direcção à ermida, onde é celebrada missa.

Nas procissões nocturnas, todos os caminhos entre a igreja paroquial e o Santuário de Nossa Senhora do Fétal são iluminados com pequenas lamparinas feitas com cascas de caracóis.

Quando integrar o Inventário Nacional, abrese o caminho para uma candidatura a Património Cultural Imaterial da Unesco. É uma vontade assumida pela Junta de Freguesia e pela Câmara Municipal, que reconhece a necessidade de investimento no local para “preparar melhor a via onde se desenvolve a procissão”. “Há que esticar a perna e subir para o degrau a seguir. Queremos ver se é possível classificá-la como Património Imaterial da Humanidade”, refere Raul Castro.