Viver

São 77 anos, três continentes e dezenas de profissões para recordar

26 abr 2016 00:00

Rui Correia, o angolano que não teve medo de arriscar

(Fotografia: Ana Prior)
(Fotografia DR)
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Daniela Franco Sousa

Viveu em Angola, em Portugal e nos Estados Unidos e ao longo de 77 anos de vida foi coleccionando diferentes profissões. A Rui Correia se aplica na perfeição o conceito de homem dos sete ofícios. Ou, melhor dizendo, homem de quase todos os ofícios, já que é pouco aquilo que nunca ousou fazer.

Do extenso currículo deste empreendedor fazem parte profissões tão distintas como: dactilógrafo, observador meteorológico, hidrometrista, empresário de cartonagem e de calçado, servente, publicitário, polícia auxiliar de aeroporto e condutor de limousine, entre muitíssimas outras funções. É o próprio Rui Correia quem admite ter nascido num berço de ouro.

Quando veio ao mundo, em 1939, já os seus antepassados viviam em Angola há mais de 100 anos. O seu avô esteve entre os primeiros colonos, como chegou a noticiar a imprensa local da época. Nas suas veias corre uma mistura da Ilha da Madeira, com uma pitada da vila de Manteigas e um pouco de sangue escocês, herdado de um bisavó.

Na sua meninice, Rui Correia frequentou escolas particulares em Angola. Numa delas era o único menino branco. Não se sentia diferente, nem discriminado, até porque ao longo de 150 anos a sua própria família se foi compondo de negros também. Foi por essa razão que, anos mais tarde, fez a tropa e entrou na guerra muito contrariado. Afinal, como diz, “estava a combater contra o que era meu”.

Porque a família fazia questão que tirasse umcurso superior, Rui Correia veio estudar para a metrópole, onde viveu entre os 12 e os quase 18 anos. Mas a família cedo percebeu que se tratava de um rapaz de ideias próprias, que não iria virar padre nem doutor. O jovem depressa começou a trabalhar e a frequentar o que chama de “universidade da vida”.

Por isso, quando concluiu o Curso Geral de Contabilidade, feito à noite, já trabalhava há muito como dactilógrafo num escritório de negócios internacionais. Antes da maioridade já as saudades da família apertavam e Rui Correia parte de Lisboa de regresso a Luanda. Mas nunca quis que a família lhe desse dinheiro nem aceitou firmar sociedades com ninguém.

A sua independência é um valor que muito estima. Em Luanda trabalhou na Direcção dos Serviços de Economia, depois na Direcção de Serviços de Obras Públicas e Transportes, onde o ordenado de dois meses serviu para comprar o primeiro automóvel. Em segunda ou terceira-mão, mas era um sonho realizado, frisa Rui Correia.

Foi “emancipado” para poder tirar carta de condução aos 18 anos, coisa pouco vulgar, quando a maioridade só chegava aos 21. Geriu um estabelecimento de importação de mercearias finas, foi dactilógrafo num escritório de engenharia civil e foi observador meterológico na Barragem de Cambambe. Quando sonhou em aventurar-se no mundo do petróleo, foi chamado a cumprir serviço militar.

Acabava de rebentar a guerra colonial, uma realidade que Rui apelida de “absurda” e “traumática”.Finda a tropa, trabalhou numa empresa que representava marcas de maquinaria pesada e mais tarde teve emprego na Electrotécnicos Reunidos. Veio depois a estabelecer-se por conta própria, dono de uma fábrica de cartonagem e de uma fazenda de banana.

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