Viver

Ritmos, batidas e sintetizadores

19 mai 2016 00:00

Apresentado no festival Indie Lisboa, o filme Tecla Tónica vai passar no Centro Cultural e de Congressos, em Caldas da Rainha, esta quinta-feira, dia 19, e no Teatro Miguel Franco, em Leiria, a 8 de Junho.

Guilherme Luz
David Maranha
David Maranha
David Maranha
Eduardo Morais
Eduardo Morais
Eduardo Morais
Moulinex
Moulinex
Moulinex
Jacinto Silva Duro

 Até Agosto, o filme percorre os cine-teatros de todo o País.

 "A música electrónica tem o dobro da idade do rock'n'roll." Esta é uma das ideias chave que Eduardo Morais quer fazer passar sempre que apresenta Tecla Tónica, o seu mais recente documentário.

Quando lhe pedimos que explique a afirmação, o jovem realizador de Caldas da Rainha ri-se, primeiro, depois, assume um sério ar, quase académico, e começa a desenhar o discurso. "A música electrónica tem várias vertentes e, ao mesmo tempo, tem vários inícios. Pode considerar-se que o início da música electrónica se deu no fim do século XIX, com o aparecimento dos primeiros instrumentos electrónicos."

A partir dos anos 1920 e 1930, começa a aparecer uma corrente de pensamento de música electrónica com o francês Pierre Schaeffer, a partir da necessidade de controlar o som.

"Foi essa electrónica inicial, do que a actual, que a mim me começou a atrair mais." Realizado e produzido por Morais, que conta já no currículo com os documentários Meio Metro de Pedra, Música em Pó e o Uivo, Tecla Tónica aborda a cronologia da evolução tecnológica do género, presente desde as primeiras peças de electroacústica da década de 60 até ao panorama actual, este documentário viaja pela pop electrónica da década de 80, pela imersão do sampling, encerrando na pista de dança.

Para filmar e montar este documentário com 100 minutos, o cineasta traçou um esquema cronológico, com início nos anos 60, e no jazz e música contemporânea (2015) e foi afunilando estilos e actores desta história até à actualidade.

Do Quarteto 1111 a Carlos Matos
José Cid faz parte da lista de nomes que foram ouvidos para a posteridade na Tecla Tónica. "Não foquei apenas o Quarteto 1111 e o álbum de rock progressivo 10.000 anos depois entre Vénus e Marte.Também abordei os trabalhos a solo dele.

Também José Cid e o Quarteto 1111, de que ele fez parte, sofreram com a ausência de estúdios em Portugal capazes de os gravar nos anos 60." A história do quarteto começa no Estoril, em 1967, quando Michel Pereira (cujo número de telefone terminava em 1111) se junta a José Cid, António Moniz e Jorge Moniz Pereira.

"Eles tinham um estúdio, não consegui perceber que material tinham lá. Nem eles já se lembram, mas conseguiram incorporar partes electroacústicas nas suas músicas, no seu universo pop-rock. Nisso, o Quarteto 1111 é pioneiro."

David Maranha e Carlos Zíngaro fazem parte da extensa lista com cerca de 40 nomes de artistas e pioneiros da música ligada à corrente que foram ouvidos para o documentário.

Quando o sintetizador aparece na vertente da música improvisada, com Carlos Zíngaro e Jorge Lima Barreto, aparecem também solistas como Miguel Graça Moura e José Cid.

“Era uma loucura. Quando tocava, parecia uma procissão a Fátima”, diz o autor de 10.000 anos depois entre Vénus e Marte, no filme.

E, como não podia deixar de ser, Leiria também tem um dedo nesta história, através da música industrial e de um melómano, nome incontornável da música nacional e da cidade do Lis, Carlos Matos. “Considerávamos que éramos manipuladores de sons. Nunca nos considerámos músicos”, recorda o músico dos projectos Ode Filípica e Broto Verbo.

"Admito que não tinha a noção de quão importante tinha sido a música industrial para a música de dança em Portugal. O Carlos Matos é uma das figuras máximas da música industrial no nosso País, não só pelo seu trabalho de divulgador mas também pelas bandas que teve", sublinha Eduardo Morais.

Entre os escutados para o filme, encontramos ainda Luís Clara Gomes (Moulinex), Pedro Coquenão (Batida), DJ Ride, Carlos Maria Trindade, Vitor Rua, ou Tó Pereira, entre outros.

Eduardo Morais
Depois do Uivo, a Tecla Tónica

Depois do documentário Uivo sobre António Sérgio, Eduardo Morais decidiu agarrar na câmara e no gravador e partir em demanda da alquimia da electrónica na música portuguesa.

O realizador diz que não houve, na verdade, "um momento de ignição" para o início do trabalho. Como estava interessado na música electrónica dos anos 50 e 60 do século passado, rapidamente se apercebeu que havia criadores em Portugal nessas décadas a explorar o conceito.

Mas, nota, é uma tarefa de grande dificuldade, um verdadeiro trabalho de detective, devido à ausência de registos e documentação. "Não se consegue saber nada! Acabei por ir tentar descobrir por simples curiosidade.

Vim de um meio que era mais rockeiro do que electrónico e ainda há um bocado aquela ideia de a música electrónica ser música de discoteca. Se calhar este projecto Tecla Tónica foi mesmo uma reacção a isso", conta.

Consciente das dificuldades, fez uma lista de nomes e começou a bater a portas. Durante seis meses, não fez mais nada. Investigava e falava com músicos pioneiros da electrónica.

Depois passou às entrevistas e filmagens. Na aventura embarcaram ainda João Pombeiro, realizador, argumentista e ilustrador, natural de Leiria, e Rui Miguel Abreu, jornalista na Blitz, radialista na Antena 3 e RDP África, parte da crew Ginga Beat e blogger, que conduziu duas das 40 entrevistas incluídas no Tecla Tónica.

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